Opinião – O arrependimento tímido de Fazuelli

Quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. E quem nasce para tucano raramente se liberta do papel de cadelinha de comunista corrupto…Escreve Rodrigo Constantino.

05/12/2023 10:49

“Fazuelli ficou em silêncio por uns longos segundos, e era possível ver a dor na contorção de seu rosto”

Foto: Fernando Bizerra

Fazuelli não gostava de Bolsonaro. Na verdade era bem mais do que isso: Fazuelli odiava Bolsonaro! Ele não era capaz de explicar em detalhes, mas repetia slogans da velha imprensa: ameaça à democracia, negacionista, genocida. Imbuído de um sincero desejo de salvar nossa democracia, Fazuelli ignorou tudo sobre o adversário de Bolsonaro e… fez o L.

Hoje Fazuelli começa a se dar conta da lambança que fez. “Até que Bolsonaro não era tão ruim assim como aquela emissora dizia”, pensou diante do espelho. Com a economia já estagnada, pois a herança positiva tem prazo de validade perante tanto desaforo, Fazuelli começa a sentir saudades do crescimento do PIB, apesar de pandemia e tudo.

Quando olha para o quadro geopolítico, Fazuelli quase entra em desespero. Com muitos amigos judeus, Fazuelli não consegue esconder sua decepção com a postura de Lula condenando Israel para poupar os terroristas do Hamas. A falsa equivalência moral é ultrajante para Fazuelli, não importa que essa sempre tenha sido a postura lulista.

O imperialismo comunista de Maduro pretende invadir uma nação vizinha, e Fazuelli sabe que Lula não vai peitar seu velho companheiro. Tudo tem se deteriorado rápido demais na política externa, transformando o Brasil num pária global. Rússia, China, Cuba, Nicarágua, Venezuela e Irã: esses são nossos grandes aliados agora. Fazuelli parece inconsolável por conta disso, em que pese o antigo elo entre PT e ditaduras comunistas, que o TSE mandou esconder durante a eleição.

Fazuelli não era fã de Lula, nunca foi. Mas engoliu o sapo barbudo por nojo de Bolsonaro. E agora tem medo. Está arrependido, mas lhe falta coragem para confessar em público, para admitir a besteira que fez. Ele tem vergonha, e por isso precisa continuar criando falsa equivalência moral: “Bolsonaro também era terrível, tão ruim quanto”, balbucia à noite na cama, sem realmente acreditar nessa mentira.

Cruzei com Fazuelli no mercado outro dia. Percebi que ele desviou o olhar, não conseguiu me encarar direito. Insistente que sou, puxei conversa e mandei na lata: “Já está arrependido da cagada que fez, Fazuelli?” Ele corou, notei que queria desaparecer, sumir dali, mas esboçou um sorriso amarelo e disse, em tom quase inaudível: “Você tinha um ponto, Constantino”.

Como meu objetivo nunca foi tripudiar de quem comete erros, mas sim ter certeza de que os mesmos erros jamais serão repetidos, perguntei: “Qual a lição que você tirou disso tudo?” Intrigado – talvez por nunca ter realmente se dedicado a tais reflexões – Fazuelli começou a falar da terceira via, da necessidade de um nome mais moderado como alternativa ao petismo etc., quando eu o interrompi bruscamente:

Caramba, Fazuelli, você não tem jeito mesmo! Diante de toda a porcaria que você e seus colegas isentões fizeram, sua conclusão é que precisamos de uma Tebet, de um Alckmin, de um Doria da vida?! Você não compreendeu ainda que essa turma é petista, que só a mídia militante os vende – ou tenta vendê-los – como oposição ao PT? Alckmin já foi colocado em capa de revista como o anti-Lula, disse que o ladrão queria voltar à cena do crime, e hoje é o vice-presidente! Doria também foi retratado como anti-Lula e hoje rasteja por um aceno do presidente, de forma humilhante e constrangedora. Ou você entende de uma vez que o teatro das tesouras acabou, que a verdadeira direita precisa ter voz na política, ou você não aprendeu nada e vai contribuir para o colapso total da nação.

Fazuelli ficou em silêncio por uns longos segundos, e era possível ver a dor na contorção de seu rosto. Depois inventou uma desculpa qualquer e se despediu, às pressas. Quase esqueceu suas compras no caixa. Ao ir se afastando, pensei comigo mesmo: “Quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. E quem nasce para tucano raramente se liberta do papel de cadelinha de comunista corrupto…”

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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