Opinião – Lula: o vassalo que traiu a todos

As grandes obras de infraestrutura foram deixadas de lado, dando espaço para iniciativas focadas em cidades inteligentes, ônibus elétricos e cata-vento no mar. Escreve Kim Paim.

 

06/12/2023 05:34

“Hoje o Brasil está à deriva e mais suscetível do que nunca aos interesses mesquinhos transnacionais”

Foto: Andre Borges/EFE

O ano está chegando ao fim, e se me perguntassem sobre o governo Lula 3, eu o descreveria como uma administração que traiu a todos. Reconheço que essa afirmação soa genérica, porém permita-me explicar: ao longo do ano, cataloguei pelo menos seis mil notícias abordando os variados aspectos do país, meticulosamente organizadas por mês, categorizadas por temas para compreender em amplitude esse quebra-cabeça chamado Brasil. Com base nisso, afirmo que Lula traiu o trabalhador, os pobres, a esquerda e, acima de tudo, traiu o próprio país. A direita não poderia ter sido traída por ele, já que não nutria expectativas quanto a Lula.

Trair a população e até mesmo o Brasil pode não surpreender muito, considerando o histórico de Lula, marcado por promessas vazias para angariar o voto dos trabalhadores. No entanto, a traição à esquerda se destaca neste terceiro governo Lula 3. No passado, o PT enfrentou conflitos internos que resultaram até na criação do PSOL, visto por muitos à época como o verdadeiro partido da esquerda “raiz”. No entanto, com o tempo, o PSOL se tornou o pioneiro no movimento woke/identitário do Brasil. Diante do cenário atual, porém, observa-se que o PT de Lula parece buscar ocupar o espaço do PSOL na defesa da agenda woke.

As nuances não param por aí. Lula 3 não se resume a uma simples versão woke de si mesmo. Estamos testemunhando uma nova abordagem em que o petista se aproxima cada vez mais da chamada agenda “globalista” do Ocidente, muitas vezes estabelecendo uma relação de subserviência com o Partido Democrata americano e com os líderes da União Europeia. É dessa aproximação que surge a traição de Lula à esquerda. A narrativa de combate ao “imperialismo” se tornou uma fábula do passado distante, dando lugar a um Lula que atua como vassalo dos interesses internacionais.

Os indícios já se faziam presentes por todos os lados desde o período da transição. Quem os apresentou em dezembro de 2022 foi Elias Jabbour, um economista de esquerda que Lula indicou para trabalhar junto a Dilma no banco dos BRICS. Numa live num famoso blog petista, Elias contou que o discurso ruim do Lula na COP-27 foi escrito por 4 pessoas ligadas a Open Society do George Soros. Em outro trecho Elias expôs a presença de pelo menos um membro da Open Society em cada um dos grupos de transição do governo. Ao assumir o governo, Lula inclusive nomeou ministros e secretários abertamente conhecidos por suas ligações com a Open Society e a agenda globalista internacional, com destaque para Marina Silva, Silvio Almeida e Sônia Guajajara.

O ano começou com Haddad e Marina marcando presença no Fórum Econômico Mundial, onde, além de falarem mal do Brasil, apontaram que agendas como a regulamentação do mercado de carbono seria implementada no Brasil. Mercadante assume o BNDES com um discurso 100% alinhado à agenda verde e à agenda ESG de equidade e inclusão.

Quando se trata de Lula, para onde seria a sua primeira viagem internacional? China? Rússia? Cuba? Venezuela? Talvez algum país governado pela turma do Foro de São Paulo? Surpreendentemente, não. Lula, como um vassalo obediente, optou por visitar Biden, onde abriu mão da soberania nacional ao afirmar: “não sei se na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa temos que fazer para obrigar os países, o nosso Congresso, os nossos empresários a acatar decisões que tomamos em nível global”. Quanto aos amigos “comunistas”, a única coisa que Lula ofereceu foi uma banana. O vassalo saiu dos Estados Unidos assinando um comunicado ao lado do Biden com duros recados para a Rússia. Observem que não busco fazer um julgamento de valores sobre as ações de Lula, apenas evidenciar a traição aos olhos da esquerda, que esperava um comportamento distinto de sua maior liderança.

Ainda no início do ano, o governo Lula votou contra a Rússia na ONU. Elias Jabbour, inclusive, fez críticas contundentes ao governo Lula, compartilhando uma thread que posteriormente foi removida, mas que um site preservou e tornou acessível (o print é eterno). Além disso, Pepe Escobar, que estava na live de dezembro de 2022 com Elias que mencionamos anteriormente, classificou como uma bomba o voto brasileiro na ONU.

Lula não foi à Rússia, mas o embaixador russo veio ao Brasil. Antes que alguém grite “comunista”, é importante destacar que logo após a partida do embaixador, Lula condenou a invasão da Ucrânia para não ficar de mal com Biden e a União Européia. Isso levou uma parcela da esquerda a acusar Lula de ser uma quinta-coluna dentro do próprio movimento. Pepe Escobar foi um dos que verbalizou essas críticas, inclusive falando que a Rússia e a China sabiam muito bem que não poderiam contar com o vassalo brasileiro. Tanto que na sua viagem à Portugal, Lula voltou a “ceder” e mais uma vez se posicionou contra a Rússia.

Nos meses seguintes, não houve mudanças significativas. Lula prosseguiu com ações direcionadas a agradar o mundo ocidental, ao mesmo tempo em que fazia gestos tímidos para apaziguar sua base, criando a ilusão de ser o líder da esquerda que muitos esperavam que ele fosse. Poderia mencionar mais eventos diplomáticos semelhantes aos anteriores, porém, isso tornaria o texto longo e cansativo.

Em outra frente, Lula continuava tomando decisões que prejudicavam o Brasil e minavam as perspectivas de prosperidade do país. O PT, que ficou marcado pelo escândalo do Petrolão, agora parecia agir contra os interesses da Petrobras. Era o núcleo duro do Lulismo, em especialmente Marina Silva e Ibama, que estava criando obstáculos que impediam a Petrobras de explorar a margem equatorial. Além disso, o governo iniciou emissões de títulos da dívida baseados em critérios ESG (é importante notar que, em um passado distante, o PT defendia a ideia de rever ou até mesmo suspender o pagamento da dívida).

Para tentar enganar sua militância, Lula propôs um novo PAC, mas agora era um PAC verde. As grandes obras de infraestrutura foram deixadas de lado, dando espaço para iniciativas focadas em cidades inteligentes, ônibus elétricos e cata-vento no mar. Todo o pacote de transição energética defendido pela União Européia e pelo Biden sendo colocado em prática. E por falar no Biden, quando o Lula foi para a reunião da ONU, ele aproveitou para visitar seu chefe e lançarem juntos uma política de valorização dos trabalhadores. Alguém acha mesmo que Biden tinha algum pé no sindicalismo? Esse episódio inclusive foi motivo de gozação na esquerda, quer dizer, de parte dela, já que a maioria da militância seguia cega para tudo que estava ocorrendo.

Agora eu vos questiono: como alguém ainda pode insistir em colocar o Lula numa caixinha restrita ao Foro de São Paulo? Como várias bebidas, conforme o tempo passou, até mesmo Lula mudou (e pelo visto pra pior). Obviamente ele não perdeu seu apreço pelos ditadores da América Latina, mas mergulhou de cabeça na chamada agenda globalista e a alçou como prioridade do seu terceiro mandato. Compreender isso é compreender por que Lula traiu a todos; é compreender por que Lula traiu o Brasil, já que nem mesmo os interesses nacionais direcionam as decisões do líder máximo da nação. Hoje o Brasil está à deriva e mais suscetível do que nunca aos interesses mesquinhos transnacionais.

 

 

 

 

Por Kim Paim. Texto editado por Bruna Frascolla Bloise.

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