Não foi o Peronismo que destruiu a Argentina, mas sim a abordagem de Raúl Prebisch, que enfraqueceu a competitiva agricultura argentina. Escreve Stephen Kanitz.
16/01/2024 06:11
“Negligenciamos nossa agricultura por 50 anos, criando uma indústria hoje obsoleta”
Raúl Prebisch, filho de um imigrante alemão e contador de banco, nutria uma forte aversão aos grandes produtores de cana-de-açúcar argentinos, que considerava a classe dominante. Ele dedicou sua vida a tentar diminuir o poder desta classe.
Prebisch foi o economista mais influente na CEPAL, impactando não só a geração de economistas argentinos, mas também brasileiros, como José Serra, Luciano Coutinho, Guido Mantega e Dilma Rousseff, além de instituições como a Unicamp.
Ele defendeu a industrialização da Argentina como meio de enfraquecer o monopólio de poder da classe agrícola dominante, implementando políticas como a utilização de subsídios e proteção tarifária.
Prebisch optou pela política econômica de Substituição de Importações, em contraste com o modelo de Exportações adotado por países como Japão, Coreia do Sul e China.
Seu argumento baseava-se em um gráfico teórico, que propunha que as elasticidades da agricultura e os termos de troca favoreciam a industrialização em detrimento da agricultura.
Propôs que carros americanos da Ford, anteriormente importados pela elite, fossem produzidos localmente na Argentina, utilizando a marca e a rede de distribuidores já existente, assim como outros produtos importados.
Contudo, na época, a Argentina tinha apenas cerca de 10 milhões de habitantes, dos quais somente 500.000 eram considerados ricos, uma base insuficiente para sustentar uma indústria de produção em massa.
Essa política levou Argentina e Brasil a desenvolverem indústrias economicamente inviáveis, sustentadas por subsídios e preços internos muito elevados.
Essa situação deu origem ao Peronismo e ao Petismo, com sindicalistas descontentes que continuam a ter influência na Argentina e novamente no Brasil.
Portanto, não foi o Peronismo que destruiu a Argentina, mas sim a abordagem de Raúl Prebisch, que enfraqueceu a competitiva agricultura argentina.
No Brasil, similarmente, negligenciamos nossa agricultura por 50 anos, criando uma indústria hoje obsoleta.
Felizmente, como a agricultura é o setor menos regulado e taxado do Brasil, estamos agora no caminho certo.
Não fosse esse retrocesso, espero temporário, de reconduzir ao poder o sindicalismo que tanto prejudicou a Argentina e o Brasil.
Por Stephen Kanitz, é um consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo