Foram mulheres valentes que, para uma certa época, romperam as correntes e passaram a atuar em espaços, antes só permitidos aos homens. Escreve Neila Barreto.
03/02/2024 06:56
“A cada dia que passa percebemos uma maior visibilidade sobre as mulheres”
A cada dia que passa percebemos uma maior visibilidade sobre as mulheres e os seus desempenhos, em diversos seguimentos da sociedade. Por esse maior espaço conquistado, naturalmente, são mais expostas em diversos meios e atividades desenvolvidas.
Confiantes, seguem por diversos caminhos e, neles encontram os perigos disfarçados de cortesias e bondades dissimulados pelos vilões.
São tantas a notícias negativas e doloridas que nos entristecem em nosso dia-a-dia. Maus tratos, cárcere privado, surras, humilhações, assassinatos e, muitos deles parecem invisíveis, como é o caso da médica veterinária e advogada Elaine Stelatto que, cortejada e levada para um passeio paradisíaco nem imaginou que estava sendo ludibriada por cordeiro em pele de lobo e, depois encontrada morta no lago do manso, no município de Chapada dos Guimarães-MT, cujo desfecho foi contado por uma história mirabolante e fantasiosa. Sofre os seus familiares, sofrem os seus pequeninos filhos.
Mês de janeiro foi o seu aniversário. O que dificulta a conclusão do caso? Por que não usar da mesma rapidez dos casos mais recentes, em Cuiabá, para pôr fim a uma situação tão evidente para a sociedade. Roguemos a Deus e a justiça dos homens para que puna o culpado.
Era uma profissional a procura da sua independência! Era uma mulher mãe em busca do seu espaço na sociedade. Jovem, ainda acreditava no caminho do bem.
Mais recentemente, ex esposa de notório político do nortão foi ridicularizada e debochada, por tornar pública os seus sofrimentos, entre outros. Isso porque ela teve a coragem de tornar público o que sofreu durantes anos.
No passado, em Cuiabá-MT, mulheres sensíveis já lutavam para defender essas mulheres violentadas, enganadas, ludibriadas e invisíveis. É o caso da poetisa, Marilza Ribeiro, psicóloga, servidora pública federal aposentada, atriz, pedagoga e professora cuiabana, uma das fundadoras do Conselho de Psicologia de Mato Grosso.
Foi locutora de rádio na cidade, onde também foi produtora dos programas viajando pela Pan Air e Caleidoscópio Feminino. Desenhista, produtora cultural, escreveu para o jornal O Estado de Mato Grosso.
Essa esgrimista das palavras presidiu a Associação Mato-grossense das Mulheres (AMM) em 1979, pela qual foi a escolhida para representar o Brasil no Tribunal de Defesa das Mulheres, em Haia (em holandês, Den Haag) é a capital administrativa dos Países Baixos, situada a 60 quilômetros a sudoeste de Amsterdam.
Pelo valor de suas obras literárias e dos seus poemas, as suas obras vêm sendo estudada nos meios acadêmicos dos países de Língua Portuguesa, dentre as quais, a tese:
O tempo na poética de Marilza Ribeiro, da Professora Célia Maria Domingues dos Reis UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso, defendida na UNESP- Universidade Estadual Paulista – SP., sob a orientação de Salvatore D’Onofre; a Dissertação intitulada: Dos Frutos às Sementes: A Incidência de Olhares nas Poéticas de Marilza Ribeiro (Brasil) e Ana Paula Tavares (Angola), de autoria da Professora Idalina Meurer, sob minha orientação, no Programa de Pós Graduação em Estudos Literários – PPGEL – Programa de Pós Graduação em Estudos de Linguagem/UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso, entre outros. Há em seu repertório diversos escritos inéditos que estão sendo compilados e organizados para futuras publicações. Entre eles, está o poema “Poética Rural”., conforme Elisabeth Battista.
Marilza Ribeiro é poetisa, com cerca de 7 livros publicados. Nascida em Cuiabá, em 27/03/1934 e falecida aos 87 anos em 01/fevereiro/2022, em São Paulo. Publicou os livros: Meu grito (poemas para um tempo de angústia), 1973; Corpo Desnudo, 1981; Cantos da terra do sol, 1998; A dança dos girassóis, 2004; Palavras de mim, 2005; as aves e poetas ainda cantam, 2014; Acordes para uma menina cantar, 2016 e Balaio Amarelo, 2016.
Marilza Ribeiro tinha como irmãs, Myrthes Ribeiro da Costa, protética dentária, auxiliava o pai no consultório, o dr. Felintho da Costa Ribeiro (1⁰ odontólogo de Mato Grosso, formado em 1913. Myrthes era exímia pianista (avó de Otaviano Costa), nascida em 16/04/1911 e falecida em 15/03/97. Foi casada com Otávio Jose Costa e pais de Otávia Lúcia, já falecida e Osvaldo José Costa casado com Elizabeth Affi Costa, pais de Otaviano Costa;
Azélia Ribeiro Camozato, a 1ª miss eleita do Estado, em 1938, representando Mato Grosso no concurso de Miss Brasil, na capital federal, nascida em Cuiabá, em 13/08/1914 e falecida em 17/06/1985;
Maria de Lourdes Ribeiro de Souza (Mary), servidora pública federal do INSS, atuante no movimento Espírita em Cuiabá e uma das fundadoras do Lar Espírita Monteiro Lobato, nascida em 19/01/1917 e falecida em 10/01/2013, a poucos dias de comemorar 95 anos.
Enyr da Costa Ribeiro, ex esposa do desembargador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Dr João Cunha, nascida em 28/04/1921 e falecida em 21/11/2017.e, dois homens: Felintho da Costa Ribeiro Filho, dono do Guaraná Predileto, nascido em Cuiabá em 28/07/1919 e falecido em 10/03/1995 e Ronaldo da Costa Ribeiro, cirurgião dentista, atualmente com 100 anos, reside no Rio de Janeiro, onde se formou, nascido em 27/03/1923.
Foram mulheres valentes que, para uma certa época, romperam as correntes e passaram a atuar em espaços, antes só permitidos aos homens. Mulheres que deixam legados de trabalho e competência.
Atualmente, muitos movimentos lutam pelas mulheres. Em Várzea Grande-MT, a Casa de Sarita desempenha um papel importante para a sociedade e, mais recente, Cuiabá recebe a Casa de Eurídice, que ampliará os atendimentos às vítimas de violência doméstica e vulneráveis, com atendimentos padronizados e garantia à proteção integral das vítimas.
Por Neila Barreto é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.