Por conta desse partidarismo visível, o público cada vez mais enxerga o “jornalismo profissional” dos principais veículos de comunicação como manipulação da realidade. Escreve Rodrigo Constantino.
06/02/2024 12:17
Um trecho do jornal da RBS, afiliada da Globo no sul, viralizou nas redes sociais hoje cedo. O apresentador chama as manchetes dos principais jornais e, quando aparece a primeira, do Zero Hora, ele começa a ler e simplesmente para no meio. O destaque era o rombo fiscal deixado pelo PT em seu primeiro ano de governo.
Muita gente fez a leitura apressada: o apresentador não gostou da notícia negativa e, por fatores ideológicos ou alinhamento ao governo, interrompeu a leitura. Não foi isso que aconteceu. A chamada era do dia anterior, e como ele mesmo havia feito a leitura um dia antes, percebeu o erro e parou no meio, para que os produtores pudessem puxar as manchetes do dia certo.
Erros acontecem em toda profissão. No jornalismo também. E, quando acontece, o certo é admitir e seguir em frente. Mas há uma reflexão necessária por parte da mídia aqui: quando imediatamente uma enorme multidão assume que não foi erro casual, e sim intencional para proteger o governo, então a credibilidade do jornalismo está em xeque e isso é muito ruim.
Foi o caso de Daniela Lima na Globo News no dia anterior. Daniela afirmou que a Polícia Federal apreendeu um computador da Abin com Carlos Bolsonaro, o que a própria PF já negava àquela altura. A notícia teve forte repercussão, e a emissora teve de soltar nota de correção depois. Era uma Fake News.
Várias jornalistas, imbuídas do espírito de corpo, saíram em defesa de Daniela Lima. Foi um erro “bobo”, que não afetou a “essência” da notícia, e ela teve a “dignidade” de reconhecer o deslize. Mas para o público esse corporativismo não serve, pois escancara justamente o duplo padrão da velha imprensa.
É a mesma turma, afinal, que não poupa munição quando é para acusar “blogueiros bolsonaristas” de espalhar Fake News. Já Daniela Lima é alguém que dá um “BOMMMMM DIA” enfático quando é para anunciar a operação da PF contra a família Bolsonaro, ou que lamentava ter que dar boa notícia de economia durante seu governo. É viés partidário puro, inegável.
E eis o ponto central aqui: por conta desse partidarismo visível, que a imprensa tenta mascarar, o público cada vez mais enxerga o “jornalismo profissional” dos principais veículos de comunicação como manipulação da realidade para empurrar uma agenda ideológica e partidária, para perseguir a direita e proteger a esquerda. Seriam militantes disfarçados de jornalistas isentos e imparciais. E essa percepção está correta: com raras exceções, a mídia virou mesmo assessoria de imprensa do PT e do STF.
Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.