Opinião – Plantio direto: uma revolucionária invenção

Os europeus estão apavorados com o que está acontecendo na agricultura dos trópicos, a poucas décadas atrás considerado o “patinho feio” da agricultura mundial. Escreve Arno Schneider.

01/03/2024 05:35

“Somente com muito subsídio poderão concorrer com a nossa eficiência”

Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT

No Brasil o pioneiro do plantio direto (PD) foi um agricultor de Rolândia – PR chamado Herbert Bartz

Na sequência, a EMBRAPA encampou a ideia que acabou desembocando na atual tecnologia.

Os pioneiros não imaginaram as inúmeras vantagens agronômicas e ambientais que adviriam com a nova técnica.

O processo tem início na colheita, quando os restos da cultura são triturados pela própria colhedeira e distribuídos uniformemente sobre o solo, na largura da faixa colhida.

O plantio da safrinha é feito diretamente sobre essa palha, dispensando as operações de preparo do solo.

Esse plantio na palha, exigiu projetos mecânicos de plantadeiras que fizessem uma semeadura eficiente nessas novas condições.

As vantagens do plantio direto são robustas, com impactos na fertilidade, conservação, ambiência e produtividade do solo, como também na preservação ambiental.

O segredo está todo nessa palhada superficial.

Haverá uma manutenção mais prolongada da umidade do solo, beneficiando os cultivos por ocasião dos veranicos, além de propiciar o plantio simultâneo da safrinha na sequência da colheita da primeira safra.

As perdas de produtividade deste ano, provocadas pelo calor e redução das chuvas, foram certamente atenuadas pela técnica do PD.

A palhada promove também uma redução da temperatura do solo, melhorando sua ambiência para a proliferação de microrganismos benéficos.

Esse aumento da matéria orgânica e a putrefação das raízes promoverão uma maior porosidade do solo, que aliada a menor compactação pela redução do trânsito de máquinas e à construção de terraços de base larga, reduziram a quase zero os problemas de erosão do solo. Com certeza o PD evitou a degradação de centenas de milhares de hectares.

São grandes também os benefícios ambientais. Além de promover um aumento contínuo da carbonização do solo, reduz significativamente o consumo de combustíveis pela eliminação das operações de preparo do solo.

Todos esses fatores tornaram a agricultura brasileira, ambientalmente, uma das mais sustentáveis do planeta.

O PD aliado a criação de cultivares mais precoces, permitiu, com irrigação, três cultivos anuais. Milhares de hectares de áreas de cerrado já produzem três safras anuais com irrigação, tendo o trigo como carro chefe do terceiro plantio.

Variedades de trigo mais tropicalizadas, para plantios na safrinha, sem irrigação, já são uma realidade.

Numa condição de três safras anuais, poderemos produzir mais de 350 sacos de grãos/ha. Nossos custos ficaram diluídos. Utilizamos o mesmo maquinário e a mesma mão de obra para duas ou três safras. O inverno do hemisfério norte não permite mais que uma safra anual.

O leque de possibilidades para a ampliação dos cultivos para um melhor aproveitamento do solo da propriedade inteira durante todo o ano, está evoluindo agora para a integração lavoura/pecuária com o plantio de forrageiras também no sistema de PD e utilizadas como pastoreio até a próxima primavera.

Os europeus estão apavorados com o que está acontecendo na agricultura dos trópicos, a poucas décadas atrás considerado o “patinho feio” da agricultura mundial.

Somente com muito subsídio poderão concorrer com a nossa eficiência.

Cada vez vão haver mais pressões contra o acordo do Mercosul, conceitos distorcidos e críticas ambientais exageradas e infundadas sobre os nossos sistemas de produção.

 

 

 

 

 

Por Arno Schneider é diretor da Acrimat.

Tags: