Opinião – Ciclos velhos, ciclos novos

Ouvi recentemente de um economista amigo a advertência: “os barões do agro estão sentados em cima do presente e deixando o futuro industrial pra depois”. Escreve Onofre Robeiro.

05/03/2024 05:02

 “No começo do século 20, nove usinas produziam álcool no Rio Cuiabá”

Reprodução Facebook.

No começo do século 20, nove usinas produziam álcool, rapaduras e aguardente no Rio Cuiabá e no rio Paraguai. No mesmo período duas grandes charqueadas produziam carne enlatada no Pantanal de Cáceres, pra exportação.

Era um ciclo industrial no velho Mato Grosso. Mais tarde agregaram-se a indústria da madeira e outras de transformação. Mas forte do ponto de vista econômico foram as primeiras. Fizeram nascer uma nova elite econômica e política em Mato Groso que dominou a política até os anos 1940.

Trago essa lembrança porque o momento atual de Mato Grosso pede uma nova arrancada industrial.  O raciocínio é simples. A partir da segunda metade dos anos 1990, a agropecuária surgiu com força dominante na economia estadual. A industrialização não veio junto. Somente agora, depois de 2015 surgem projetos industriais. Mato Grosso é o primeiro produtor nacional de grãos, carne, álcool e fibras. Precisaria contar com numa indústria crescente para agregar valor a essa produção e afastar as crises tão frequentes no mercado de commodities.

Uma série de consequências positivas acompanhariam a industrialização. Igualdade social, melhor distribuição de renda, melhoria na educação, maior arrecadação de impostos e todas suas consequências sobre a sociedade, melhoria na infraestrutura e o desenvolvimento de tecnologias industriais.

Mas talvez a coisa mais relevante seria sair da dependência dos preços internacionais de commodities. Este ciclo atual seria o mais consistente de todos já vividos por Mato Grosso. Mas depende da ação direta do setor agropecuário. Há grandes grupos que poderiam começar planejar esse ciclo inevitável. As ações nesse sentido estão muito tímidas.

Embora alguns desses grupos agropecuários atuais tenham alcançado grande prestígio político, não se movimentam politicamente no sentido de criar um ciclo próprio de industrialização neste momento do Estado, do país e do mundo.

Ouvi recentemente de um economista amigo a advertência: “os barões do agro estão sentados em cima do presente e deixando o futuro industrial pra depois”.

O momento dos EUA e da Europa pede um olhar mais atento pro futuro de quem produz alimentos. Uma brecha de oportunidades enorme está aberta. Mato Grosso é uma ilha dentro do Brasil.  Precisamos olhar o futuro industrial pra dar sustentabilidade a toda e poderosa economia que virá nos anos próximos.

 

 

 

 

 

Por Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.

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