Opinião – Burocratas fardados

Quando o presidente do STM faz esse papelão de se humilhar diante de Lula, a imagem das Forças Armadas fica mais e mais chamuscada perante o povo brasileiro. Escreve Rodrigo Constantino.

28/03/2024 10:32

“O ministro do STM quer dizer que aqueles comunistas (…) abandonaram o comunismo?”

Ministro Francisco Joseli Parente Camelo, presidente do Superior Tribunal Militar.| Foto: Reprodução/STM

O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Francisco Joseli Parente Camelo, disse nesta terça-feira, 26, que não acredita que existe comunismo no Brasil e que a esquerda quer é “um Brasil melhor”. Em entrevista à BandNews TV, o tenente-brigadeiro do ar afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é comunista.

“O presidente Lula é um sindicalista. Não vejo o presidente Lula, e jamais o vi, como um comunista. Porque as pessoas tem uma mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista. Isso não existe. Ser de esquerda é querer um Brasil melhor, um Brasil mais solidário, um Brasil mais próspero, um Brasil que pensa no mais pobre, é tudo isso que a esquerda pensa. Ser de esquerda não é ser comunista e o comunismo, para mim, não existe no nosso país”, disse.

Quando o presidente do STM faz esse papelão de se humilhar diante de Lula, a imagem das Forças Armadas fica mais e mais chamuscada perante o povo.

O presidente do STM também se referiu à ditadura militar de 1964 como uma “revolução necessária naquele momento”. “Vejo 1964 como uma revolução e como necessário. Não vou dizer que não cometemos erros, porque os erros foram acontecendo e foram virando uma bola de neve”, afirmou. Ora bolas: por que foi necessária naquele momento a revolução militar se não para impedir que comunistas tomassem o poder?

O ministro do STM quer dizer, então, que aqueles comunistas, que continuam os mesmos e sem qualquer pedido de desculpas ou reconhecimento dos equívocos de sua ideologia, abandonaram o comunismo? Os petistas não defendem até hoje o regime cubano, por acaso? Não enaltecem a “democracia relativa” da Venezuela, sob ditadura socialista?

Ao afirmar que ser de esquerda é “desejar um país melhor”, o ministro do STM apela para a tática do monopólio da virtude. Ele diria o mesmo da “extrema direita”? Esse tipo de “passada de pano” para o petismo é algo indecente, imoral e demonstra bem a razão da rápida deterioração do quadro institucional brasileiro: se até a elite militar acende vela para comunistas corruptos, quem vai impedir o projeto de poder do PT?

Um amigo da Marinha me recomendou o livro A estranha derrota, de Marc Bloch, cuja sinopse diz: “Considerada a mais pertinente análise da derrota da França na Segunda Guerra, esse livro foi escrito entre julho e setembro de 1940, logo após a rápida derrota das tropas francesas frente ao invasor alemão. O manuscrito escapou por pouco de se perder e só foi publicado seis anos depois, quando Marc Bloch, um dos mais importantes historiadores da França, já havia sido fuzilado pela Gestapo em 1944. Participando como soldado nas duas guerras mundiais, Bloch tenta compreender os motivos da derrota. Para ele, a França sucumbe não devido à sua inferioridade militar. Os motivos são mais profundos e Bloch busca a explicação no próprio ritmo da vida social. A edição traz outros pequenos textos que ajudam a compor um painel da sociedade francesa durante a Segunda Guerra e a revelar o perfil desse brilhante historiador, que contribuiu decisivamente para mudar o enfoque dos estudos históricos até então voltados para fatos políticos do passado, ao buscar apreender o homem na sociedade de seu tempo”.

Para meu amigo, o paralelo com nossas Forças Armadas é evidente. O autor explica que uma das razões para a França ter perdido a guerra em seis semanas foi a rotina de escritório a que os soldados e, principalmente, os comandantes foram submetidos após a Primeira Guerra. O mérito passou a ser o puxa-saquismo e o carreirismo rolou solto, os soldados deixaram de ser guerreiros para serem “funças”. Quando a guerra começou, deu no que deu.

“Nossos generais nunca tiveram um batismo de fogo, são burocratas que prestam continência”, desabafou. Isso vai na linha da crítica que o deputado Ricardo Salles tem feito aos nossos militares. A impressão que fica, para muitos patriotas, é que a cúpula militar parece disposta a tudo – até mesmo prestar continência ao ditador Maduro – desde que preserve seus carguinhos, alguma promoção ou privilégio, e dane-se o povo e o país!

Não tenho a menor dúvida de que tal conclusão será injusta com muita gente boa nos meios militares. Mas quando o presidente do STM faz esse papelão de se humilhar diante de Lula, a imagem das Forças Armadas fica mais e mais chamuscada perante o povo brasileiro.

 

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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