Opinião – O último pau de galinheiro

Em nome dessa felicidade habitual, as redes sociais ganharam mordaça, usuários pagaram multas e restrições de direitos, outros carregam tornozeleiras ou foram para o exílio. Escreve Percival Puggina.

25/04/2024 13:52

“O ruído da senzala perturba o sossego da Casa Grande”

Está em curso no Brasil um câmbio radical nas relações entre a nação e o Estado. Na vida real, longe das enganosas narrativas e torcidas populistas, resta apenas um fiapo do ânimo que levou Ulysses Guimarães a identificar como “Constituição Cidadã” a carta de 1988. A entusiasmada definição dada pelo idoso e experiente político paulista, deputado federal por 11 legislaturas, refletia a expectativa de ter sido estabelecida a prioridade da nação sobre o Estado. No entanto, com um modelo institucional errado, saiu tudo ao reverso das expectativas.

Passados 35 anos, o cidadão – perdoem-me por dizê-lo – é o último pau do galinheiro nacional. Vive em servidão, a custear mordomias e disparidades infinitas com o suor de seu rosto sob um Estado que se cobre de sigilos enquanto lhe restringe as liberdades. A opinião dos brasileiros é a suprema inutilidade nacional, objeto de desprezo por parte daqueles que, seguindo o “Waze” de Gramsci, chegaram ao poder pela “longa marcha através das instituições”.

No trajeto, os princípios constitucionais foram transformados em massa de moldar manuseada segundo a estética das circunstâncias. No tempo do general Golbery, isso era chamado “casuísmo”.

Com o advento das redes sociais, os cidadãos erguidos em 1988 à condição de fonte da qual o poder emana puderam se expressar com eficácia. Na semana passada, porém, ficou-se sabendo que tais redes vieram acabar com a felicidade dos membros da oligarquia instalada. Que dó que dá! Em nome dessa felicidade habitual, as redes sociais ganharam mordaça, usuários pagaram multas e restrições de direitos, outros carregam tornozeleiras ou foram para o exílio. O ruído da senzala perturba o sossego da Casa Grande.

Hoje, querem nos convencer que o Estado é o oráculo, o deus da religião civil de Rousseau – onisciente, onipotente e onipresente. Ademais, alguns de seus sacerdotes veem a si mesmos como Charlotte, a última bolachinha do pacote.

Com o espírito abalado nos últimos dias por saber que nossa própria realidade política e institucional precisou ser escrita em inglês e descrita com sotaque, participei no último fim de semana, em Londrina, do 4º Fórum Educação, Direito e Alta Cultura. Falei sobre o “Eloquente silêncio de uma nação”.

O convite para ali estar me proporcionou uma experiência maravilhosa, desde o impacto causado ao ver, do alto, aquela metrópole que nasceu no início do século passado e já conta 600 mil habitantes. Acrescida de seu entorno, vai além de um milhão.

Durante o Fórum, realizado pela Editora E.D.A., com a amável e criativa regência de Cláudia Piovezan, vi a trajetória institucional e social brasileira ser esmiuçada por personalidades como Ricardo Vélez Rodríguez, Roberto Motta, Pe. Antônio Fiori, Sandres Sponholz, Filipe Regueira de Oliveira Lima, Ludmila Lins Grilo, Diego Pessi, Isabelle Monteiro, Araceli Alcântara e Henrique Cunha de Lima. Uau! Londrina me cativou e renovou meu ânimo. Quanta gente boa, não por acaso na terra do casal Edson e Cláudia Piovezan, de Paulo Briguet, de Bernardo Küster, de Silvio Grimaldo e tantos outros!

Que o Salvador os abençoe pelo bem que fazem, conduzidos pela fé legítima, a fé que conta, no Deus de amor.

 

 

 

 

Por Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

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