Opinião – O Brasil de hoje, a Colômbia de ontem!

Num país como o Brasil, onde ocorrem perto de 50 mil assassinatos por ano, esta questão continua não sendo tratada como prioridade nacional. Escreve Vanderlino H. Ramage.

29/04/2024 11:26

“Qualquer semelhança não é mera coincidência”

Reprodução.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”!

No ano de 2005 estive na Colômbia, e naquela ocasião estava chegando às livrarias a biografia de Pablo Escobar, o mega narcotraficante do chamado “Cartel de Medellin”. Impressiona a semelhança do que vivenciava aquele país, nos anos 80 e 90 do século passado, com o Brasil de hoje, com os níveis de violência, como decorrência do narcotráfico.

A biografia é um depoimento contundente e sem firulas, dado por Jhon Jairo Velásquez Vásquez, conhecido no mundo do crime como “Popeye”, à jornalista colombiana Astrid Maria Legarda Martínez. “Popeye” era o segundo na hierarquia do “Cartel de Medellin”, abaixo apenas do super “capo”, Pablo Escobar, sobreviveu ao Cartel, e deu estes depoimentos a partir de 1998, na prisão em Bogotá, Colômbia.

Para aqueles que se interessam, estudiosos, curiosos, sociólogos, professores de direito, enfim todos aqueles que acreditam, de que não há efeito sem causa, e sobretudo acreditam no nosso país, recomendo que leiam “El Verdadero PABLO, Sangre, traicion y muert…”, mutatis mutandis, concluirão de que o Brasil de hoje se encaminha (ou já vive) à Colômbia de ontem.

É inacreditável, mas Pablo Escobar, com seu “Cartel de Medellin”, chegou a dominar o país inteiro. O Estado Colombiano, foi posto de joelhos, ficou à mercê do traficante. Dominou o Congresso Nacional, chegando ao ponto de mudar a legislação que permitia extradita-lo para os EUA. Entretanto para atingir este nível de dominação, amedrontou a nação através do terror.

É necessário ressaltar, que Pablo angariava a simpatia de parte da população, que via nele um salvador, um benfeitor. Na realidade era um populista bandido, que sabia como poucos manipular as pessoas e carrear os anseios das populações humildes e carentes. Um Robin Hood às avessas, do século XX. Qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência.

No auge do seu poder e na luta titânica para não ser extraditado, Pablo Escobar cooptou especialistas dos grupos guerrilheiros ETA, das FARCs, do ELN, do M-19 etc, para as quais fornecia drogas em troca de armamento e treinamento operacional militar. É incontestável, nesse relato biográfico, a simbiose do narcotráfico com as esquerdas latino-americanas. Os Sandinistas da Nicarágua, o General Noriega do Panamá, e os donos de “La Isla Paradiso”, Cuba. Pablo tinha a simpatia dos ditos “movimentos da sociedade organizada”, do “indigenismo”, dos “direitos humanos”, do “ambientalismo” etc.

As “FARCs” brasileiras têm outros nomes, mas são bem conhecidas. Tem apelidos camuflados como “Movimentos Sociais”, inclusive ONGs. Daí talvez, se possa começar a entender porque os “direitos humanos” nunca acodem as vítimas, o policial assassinado ou seus familiares, mas se apiedam sempre do bandido!

No final de sua vida, Pablo com seu “Cartel de Medellin”, entre outros recordes, contabilizava a morte de 1500 policiais, o assassinato de 03 candidatos à presidência da república, 02 ministros da justiça, 01 senador, 01 procurador da república, a derrubada  de um avião um avião com 107 passageiros abatido em pleno voo, mais de 250 atentados com dinamite, morte de mais de 1000 jovens das comunidades, centenas de civis inocentes, sequestros de empresários, jornalistas, políticos, etc, e a proeza de ter acabado com a cúpula do judiciário colombiano de uma tacada só, incluindo a morte de mais de 100 pessoas num único atentado. Foi aí que a nação começou a acordar! Será que o Brasil está necessitando de um choque semelhante?

No caso do Brasil a situação é mais grave, pois contabilizamos quase 50.000 assassinatos por ano, em grande parte, como decorrência do consumo de drogas ilícitas, o narcotráfico e seus desdobramentos. Incluindo as mortes no trânsito (50.000 por ano), chegamos a um número apocalíptico, de mais de 1.000.000 de mortes violentas em 10 anos. E ainda não acordamos!

É uma guerra das mais devastadores de todos os tempos. E o custo psicológico? Medo, descrença, insegurança. E o custo social e financeiro? Quanto custa aos contribuintes deste país pagar esta guerra fratricida?

Entretanto, o mais inverossímil foi o debate político das últimas eleições sobre o tema, quase nada. A preocupação relevante orbitava sobre a questão LGBT, casamento gay, homofobia etc, temas que passaram a ser prioridade nacional, uma questão de Estado. Aliás, continuam como prioridades no Congresso Nacional. Enquanto isso a nação sangra.

Nas questões estratégicas, que realmente interessam para o futuro do nosso país, o Brasil virou o “samba do criolo doido”: Na TV o herói é do UFC, violência que faz do boxe um esporte para os fracos; do “BIG Brother”, da “novela das oito”, e para fechar a semana, o herói da “Dança dos famosos”.

O narcotráfico já mantém muitas áreas “liberadas” em cidades brasileiras, e está na gênese da maior parte da violência deste país. As medidas para extirpar esta chaga, tomadas pelas autoridades, são de uma candura de fazer chorar o mais insensível dos mortais.

Vejamos: como se trata de uma guerra, o problema escapa à soluções meramente policiais. Todos sabem de onde vem as drogas, por onde entram no país, por onde entram as armas que dão suporte bélico e quem são os respectivos fabricantes.

Portanto as UPPs, tão celebradas como soluções em algumas grandes cidades brasileiras, são apenas respostas políticas de candidatos eleitoreiros. Na prática, servem de mortes anunciadas de policiais que morrem às dezenas, no cumprimento inglório do dever.

De outra parte, as campanhas antidrogas se revelam de um cinismo que despreza a capacidade cognitiva e a sensibilidade do ser humano. Se restringem ao “CRACK”, o “genérico” das drogas. O “crack” incomoda ao grande traficante e a sensação que se tem é de que o narcotráfico já controla setores da mídia, dada as investidas para “legalizar” a maconha. Qualquer estudante do segundo grau sabe que a maconha é a porta de entrada para as drogas mais pesadas.

O tabaco e o álcool destroem o físico, o narcótico destrói a alma.

Causa espanto que os bilhões de reais, movimentados pelo narcotráfico, escapem ao controle das autoridades fazendárias deste país. Pois, qualquer brasileiro que já viveu a experiência de movimentar o montante de R$ 100.000,00 sabe que tem um órgão chamado COAF, que controla as movimentações financeiras desse porte. E mais, o dinheiro do tráfico necessita ser “lavado”, e não é feito em lavanderias convencionais. Todos sabem onde eles são “lavados” para legitima-los. Conforme estudiosos do tema, a movimentação financeira do narcotráfico só é superada pelo mercado de armas!

Há muitos anos, na época da inflação galopante, ouvi alguém dizer: “Sabem por que a inflação não acaba? Porque alguém lucra com ela, pois se a sociedade inteira, sem exceção, perdesse, ela acabaria no dia seguinte”.

Este raciocínio vale para o narcotráfico. Além dos narcotraficantes, alguém mais lucra, alguém ou alguns muito poderosos, e dá para inferir quais sejam?!

Poderia continuar este raciocínio usando a lógica capitalista. O narcotráfico existe porque existe mercado. Como o maior mercado consumidor do mundo, até segunda ordem, continua sendo o mercado norte americano, não seria ali, também, que o problema teria que ser atacado prioritariamente?

Num país como o Brasil, onde ocorrem perto de 50 mil assassinatos por ano, esta questão continua não sendo tratada como prioridade nacional, convenhamos, vivemos numa sociedade doente, num paroxismo sem fim!

Lembro-me de uma amiga, que teve seu único filho assassinado num latrocínio. Esta mãe teve que lutar, como só uma mãe o faz, para conseguir prender e manter o bandido na cadeia. Passado algum tempo, alegando insegurança, este facínora conseguiu a transferência de um presídio de segurança máxima para um presídio de segurança mínima, no interior do Estado. Esta mãe, periodicamente, se dirigia àquela cidade para conferir se o “seu bandido” ainda estava lá encarcerado. Como já se passaram muitos anos, “a progressão da pena”, a Lei que autoriza bandidos a continuarem praticando novos delitos, já deve ter colocado este assassino no convívio da sociedade.

Os exegetas do Direito dirão: são conquistas da civilização! E, quem pensa diferente, os esquerdopatas logo rotulam de autoritário, direitista e fascista.

Disse-me aquela mãe: a sociedade brasileira silencia e o silêncio a faz conivente!

Silencia o Executivo, silencia o Judiciário, silencia o Legislativo, silencia a OAB, silencia o MP!

Diz-se que “A história se repete duas vezes, a primeira como farsa, e a segunda como tragédia”. A farsa é a pseudodemocracia que vivenciamos, a tragédia é o que virá depois!

“Isto não é o fim do mundo, é o fim do Brasil, apenas”!

 

 

 

 

Por Vanderlino H. Ramage, é Major Veterano da FAB/Administrador

Tags: