Opinião – Simploriedade ou Esperteza?

Se tais simploriedades não forem propositais, seria bom o Lula instruir-se um pouco lendo os livros que desaconselha para o Haddad. Escreve Renato de Paiva Pereira.

29/04/2024 05:38

“O presidente Lula mostra-se exasperado porque o governo parece estagnado”

Foto: Andre Borges/EFE

Basta cair a popularidade do Lula que ele perde de vez a serenidade e começa a falar pelos cotovelos. Desta vez, em flagrante insensatez, cobrou em ato público maior empenho dos ministros, citando alguns nominalmente. Foi o caso do Geraldo Alckmin (Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento) a quem pediu mais agilidade e do Fernando Haddad que segundo o Presidente está lendo mais livros que conversando com parlamentares.

Sobre leitura de livros, o gaúcho Leonel Brizola disse diversas vezes que o próprio Lula lhe teria dito que nunca passara da página 16 de nenhum livro.

Acrescentava ainda o Lula, a crer no Brizola, que não lia porque ler muito embaralha as ideias.

Claro que faz parte das obrigações de um Presidente cobrar constantemente de seus auxiliares um empenho maior e de melhor qualidade. Entretanto, essas cobranças devem ser feitas em reuniões internas, nunca passar uma carraspana pública na turma do primeiro escalão.

O Presidente mostra-se exasperado porque o governo parece estagnado e esse suposto paradeiro começa a ser observado pelos eleitores que respondem com menos apoio e isto o desestabiliza.

Com os auxiliares diretos, o Lula volta a criticar o Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto. Em discurso o Presidente diz que o “o Campos Neto tem que saber que quem perde dinheiro com juros altos é o povo brasileiro”. Esta é uma tola lição de economia de um leigo verborrágico para um PhD experimentado, tentando convencer a população que ele (Lula) defende o povo e o Presidente do BC, o mercado.

Não bastassem tantas bobagens, ainda solta simplórias falas de efeito: “com todo respeito ao mercado, eu quero mais bem ao Brasil que ao mercado”.

Na verdade, eu penso que o Governo não está indo tão mal assim a ponto de aumentar a desaprovação popular assim de repente. A inflação está sob controle, a expectativa de crescimento do PIB para este ano continua razoável, o desemprego está em baixa e o desmatamento vem caindo continuadamente. Só está muito ruim a teimosa decisão do Lula de não cortar gastos. Ardilosamente ele vive repetindo que gasto na saúde e educação é investimento, como se mudando o nome da coisa ela deixasse de ser perniciosa.

Às vezes parece que o Lula sabe que muitas de suas falas e frases são simplórias, mas ele as usa conscientemente porque conhece os efeitos delas nos seus seguidores. No café da manhã com os jornalistas nesta semana, falando sobre seu veto à proibição das saidinhas dos presos, diz que não pode negar este benefício aos criminosos porque a “família é sagrada e não pode proibir o preso de visitá-la”. Se não é lícito separá-lo da família, não deveríamos prendê-lo.

Se tais simploriedades não forem propositais, seria bom o Lula instruir-se um pouco lendo os livros que desaconselha para o Haddad.

 

 

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor

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