Opinião – Pontos, vírgulas e muito mais

Seria bem mais fácil lidar com as necessidades de reagir a eventos que, por si só, não determinam os efeitos que recaem sobre quem por eles seja atingido. Por Marcelo Augusto Portocarrero.

10/06/2024 05:53

“Seria bom se nossas vidas fossem tocadas da forma como escrevemos”

Que bom seria pudéssemos tocar nossas vidas como as descrevemos, ou melhor, como as escrevemos.

Como acontece com a utilização da vírgula, bastaria dar uma ligeira pausa entre os problemas para separá-los adequadamente e assim evitar que suas ambiguidades tornem nossa jornada ainda mais imprevisível. Afinal, todos sabemos que a utilização inadequada da vírgula e a desatenção com as palavras costumam desvirtuar as verdadeiras intenções.

Da mesma maneira, quando nos depararmos com eventos, sejam eles problemáticos ou não, deveríamos controlar nossas interferências utilizando critérios ortográficos como os pontos continuativos, até podermos desenvolver todo nosso entendimento sobre o que acontece de maneira a rematar nossa participação adequadamente com um ponto parágrafo. Isto feito, poderíamos encerrar o desenrolar do contexto utilizando um definitivo ponto final.

Quem dera fossem somente esses dois os sinais ortográficos que auxiliam a escrita,

a leitura e a interpretação das situações e vicissitudes da vida. Ledo engano, a eles se juntam o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, as reticências, o ponto e vírgula, os dois-pontos, o travessão, as aspas e os parênteses.

Quanta interrogação é necessária para dar entendimento a acontecimentos que variam de acordo com a complexibilidade do que estamos vivenciando?

O que dizer então das necessidades de usarmos da exclamação em nossas demonstrações de alegria, dor, entusiasmo, raiva e surpresa entre tantas outras ocorrências.

Como explicar momentos nos quais precisamos pausar o enunciado utilizando os três pontos das reticências, que na realidade apenas traduzem omissões por não querermos revelar emoções demasiadas, insinuações, etc.; os necessários dois pontos e travessão, utilizados nas locuções e mudanças dos nosso interlocutores; as aspas, que mais parecem vírgulas suspensas, nas tentativas de destacar citações e gírias comumente utilizadas; o que fazer então, quando precisamos enfrentar situações que exigem considerações assessórias tais como os parênteses usados nas observações, adendos e outras curiosidades que vão aparecendo pela nossa frente?

E mais, para transparecer corretamente nossas limitações em relação aos sinais ortográficos, ainda existem seus acessórios, quais sejam: os acentos, as notações léxicas e os sinais de ligação. Sobre os quais não haverá considerações, para não tornar ainda mais enfadonha esta digressão literária.

Seria bem mais fácil lidar com as necessidades de reagir a eventos que, por si só, não determinam os efeitos que recaem sobre quem por eles seja atingido se conseguíssemos mudar a forma como os entendemos. Se boas, ruins ou indiferentes, são as reações que definem o que acontecerá conosco e não os fatos.

A consequente reação ao dano não está em sua origem e sim na maneira como respondemos a ele.

 

 

 

 

 

Por Marcelo Augusto Portocarrero é engenheiro civil.

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