Opinião – Da política para a polícia: o Brasil voltou!

Não pretendo dar qualquer alívio a quem foi cúmplice da volta de Lula e agora se faz de bobo e desentendido, “surpreso” com o único resultado possível disso. Escreve Rodrigo Constantino.

14/06/2024 07:40

” ‘Não sou direita nem esquerda’, dizem os eternos esquerdistas sonsos”

Neri Geler perdeu o cargo de secretário de Política Agrícola por suspeita de favorecimento de ex-assessor no leilão da Conab| Foto: Marcelo Andrade

A política nacional volta às páginas de polícia. Vereador petista é preso por desvio de doações ao Rio Grande do Sul em meio a uma calamidade sem precedentes, enquanto leilão totalmente desnecessário de arroz é suspenso pelo governo Lula após fortes evidências de fraudes. Quem poderia esperar algo assim, não é mesmo?

Teve blogueiro tucano chamando a coisa de “trapalhada”, mas isso é claro eufemismo para passar pano para o petismo. Em meu livro Estrela Cadente sobre o PT, de 2005, coloquei “trapalhada” no subtítulo, mas o lançamento se deu antes do mensalão. Após o escândalo de corrupção ficar escancarado, ninguém mais pode alegar desconhecimento do que é o PT.

Esse é o dilema de todo antipetista hoje: fingir que essa turma não sabia o que Lula e sua trupe fizeram em vários verões passados para aumentar a tropa contra o desgoverno que vem destruindo o país, ou esfregar o cinismo na cara dos hipócritas pelo efeito pedagógico importante disso?

O barco está afundando. Empresário grande que doou dinheiro para o PT começa a tecer duras críticas sobre a política econômica. Banqueiro graúdo próximo do petismo ensaia afastamento gradual. Professores de federais mantêm greve e sobem o tom contra Lula, o traidor. Até na Globo já dá para ver algumas críticas mais incisivas sobre o desgoverno. Será que Alckmin entrou no aquecimento?

“O ladrão quer voltar à cena do crime”, alertou Alckmin antes de resolver dar a mão ao ladrão e voltar junto dele. Se o centrão fisiológico, em abstinência de recursos cada vez mais escassos, resolver puxar o tapete de Lula, isso não pode significar uma vitória dos “tucanos do sistema”. Seria péssimo no longo prazo.

Sim, claro que uma gestão Alckmin, com troca de Haddad por um “tucano de mercado”, seria um alento em algumas áreas importantes, como a economia. Os excessos lulistas seriam evitados, Dirceu não teria tanta autonomia nos bastidores, o estrago diplomático seria mitigado sem tanto flerte escancarado com o eixo do mal. Mas a que custo?

O custo seria a total impunidade – na verdade, a completa vitória – de quem foi cínico a ponto de usar o petismo só para se livrar da direita, fingindo que era para “salvar a democracia” com o maior bajulador de ditadores do mundo. O crime não pode compensar tanto, se desejamos um dia ter um país sério. O teatro das tesouras precisa ser interrompido.

A economia está degringolando rápido, o dólar disparou, a coisa vai ficar ainda mais feia em breve. Estancar a sangria é crucial. Salvar o PIB é necessário. Mas economia não é tudo. Permitir que tucanos hipócritas saiam ilesos e recompensados por terem ajudado a recolocar o ladrão de volta à cena do crime é compactuar com a eterna imoralidade da coisa pública.

“Não sou direita nem esquerda”, dizem os eternos esquerdistas sonsos. Quem não é antipetista é a favor da corrupção, é pró-ineficiência estatal, pró-canalhice e pró-censura (lembrando que o ministro supremo mais autoritário é um ex-tucano que trabalhou com Alckmin). Eu não respeito ninguém que não repudia o petismo e o que ele representa.

De minha parte, não pretendo dar qualquer alívio a quem foi cúmplice da volta de Lula e agora se faz de bobo e desentendido, “surpreso” com o único resultado possível disso, que é a destruição do nosso país…

 

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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