Opinião – Impostos e grandes fortunas

É fato notório que o Estado brasileiro eleva suas despesas à medida que a receita aumenta, portanto, não se trata de um problema típico de arrecadação. Escreve Victor Humberto Maizman.

24/11/2024 05:27

“A simples elevação da tributação não é solução do problema fiscal brasileiro”

Foto: Eskay Lim/Unsplash

Na semana passada a Câmara dos Deputados rejeitou a proposta de lei que pretendia instituir o Imposto sobre as Grandes Fortunas a ser cobrado de quem tem um patrimônio igual ou superior a R$ 10 milhões.

Pois bem, de acordo com a vigente Constituição Federal, aprovada em 1988, a União pode instituir impostos sobre grandes fortunas mediante lei complementar.

Desde então, passados 36 anos, diversas propostas foram apresentadas, porém não houve consenso no Congresso Nacional para a instituição do referido tributo.

O Imposto sobre Grandes Fortunas é o único imposto que está previsto na Constituição, mas ainda não foi instituído.

Diversos países da Europa, e alguns da América Latina e Ásia, já tiveram experiência com tributação sobre fortunas, a maioria a partir dos anos 1980.

Porém, opositores à tese da tributação sobre grandes fortunas entendem que tal tributação promoverá um desestímulo à formação de patrimônio, bem como estimulará os detentores de fortunas a movimentá-las para países cuja tributação seja mais branda.

Portanto, os contrários à tributação sobre heranças e riqueza argumentam que há um desincentivo à formação de poupança entre as gerações e um incentivo à mobilidade de capitais para locais onde há menor tributação.

Em regra, no Brasil, já se tributa a renda, o patrimônio móvel e imóvel, a herança e as doações.

Nesse sentido, defendem alguns que instituição de um tributo também sobre as fortunas, em verdade, representa uma nova tributação sobre as mesmas bases de cálculo de outros impostos, já que o fato gerador “grandes fortunas” se compõe de todos estes ativos.

Em que pese o Imposto sobre Grandes Fortunas possa ter potencial para redistribuição de riquezas, não é certo que sua eventual instituição vá resultar em desonerações de outros tributos, promovendo verdadeiramente, ainda que em alguma medida, ideais de justiça fiscal.

É fato notório que tradicionalmente, o Estado brasileiro eleva suas despesas à medida que a receita aumenta, portanto, não se trata de um problema típico de arrecadação.

Desse modo, a simples elevação da tributação não é solução do problema fiscal brasileiro, devendo sim, antes de tratar sobre a majoração da carga tributária, fazer uma ampla discussão sobre a redução das despesas públicas.

 

 

 

 

Por Victor Humberto Maizman é advogado e consultor jurídico tributário.

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