Opinião – É hexa! É hexa!

Os mesmos criadores do “calabouço fiscal”, que garantiu que as despesas vão subir sempre acima das receitas, inventaram agora um pacote de corte de gastos que ninguém pode engolir. Escreve Luís Ernesto Lacombe.

06/12/2024 06:37

“Já Lula é um santo, tudo o que faz é pelo bem do povo.”

O dólar agora se junta ao litro da gasolina no clube dos R$ 6. (Foto: Gerd Altmann/Pixabay)

Alguém com bom senso, apegado ao mundo real poderia imaginar que seria diferente? Não tinha como… Às toneladas, publicações feitas em redes sociais por Lula e por sua turma no período em que Jair Bolsonaro era presidente envelheceram bem mal. Vou citar apenas uma, bem representativa de um país sufocado por impostos e em delicada situação fiscal. Foi publicada no antigo Twitter, hoje X, pelo PT, em 27 de janeiro de 2021. O texto era assim: “Não tá dando para andar de carro e muito menos viajar para a Disney. Na corrida maluca do governo, quem perde é o povo. Quem chegará primeiro ao valor de seis reais? A gasolina ou o dólar? Saudades do PT!”. A ilustração botava lado a lado numa pista de atletismo uma nota de dólar e um galão de gasolina.

É preciso, primeiro, lembrar que, no começo de 2021, as consequências do fecha tudo, pretensamente para combater a Covid, da balela “a economia a gente vê depois” ainda eram pesadas. Mesmo assim, o Brasil se recuperou mais rápido que a maioria das nações, manteve a inflação sob controle, mais baixa até que países desenvolvidos, e voltou a crescer. Naquele ano, nosso PIB subiu 4,8%. Mesmo com todos os gastos que o governo foi obrigado a fazer, tínhamos Paulo Guedes no Ministério da Economia e Roberto Campos Neto já na presidência do Banco Central. Assim, ninguém cruzou aquela faixa que estampava, em vez da palavra “chegada”, R$ 6,00: nem o dólar, nem a gasolina.

Com apenas nove meses do terceiro mandato de Lula, essa “corrida maluca” desejada pelo PT foi vencida pela gasolina. Em setembro de 2023, o litro do combustível ultrapassou os R$ 6. Hoje, o preço médio da gasolina no país é R$ 6,10, a comum, claro. Em três estados da Região Norte – Acre, Amazonas e Rondônia – o preço já passou dos R$ 7. O PT já não fala mais do assunto, ou finge que está tudo bem, ou aponta, como sempre, outros culpados para o descalabro em que estamos… Jair Bolsonaro continua sendo um irresponsável, alguém que não se preocupa com o meio ambiente, que incentiva o consumo de combustíveis fósseis, que levou adiante o delírio de zerar os impostos da gasolina, do diesel, do álcool e do gás de cozinha. Onde já se viu? Como assim cortar impostos? Medida eleitoreira descarada…

Já Lula é um santo, tudo o que faz é pelo bem do povo. O descontrole nos gastos do governo é para salvar o Brasil… “Gasto é vida”, esse é seu lema. Vamos torrar trilhões, gastar muito e gastar mal, basta compensar com aumento de arrecadação: sobem-se alíquotas, inventam-se novos tributos. E assim estamos numa armadilha fiscal, criada pelo petista, e por razões políticas apenas. O petista precisa aumentar sua popularidade… Não vai conseguir, com os anúncios feitos por Fernando Haddad essa semana. Os mesmos criadores do “calabouço fiscal”, que garantiu que as despesas vão subir sempre acima das receitas, inventaram agora um pacote de corte de gastos que ninguém pode engolir. E o dólar resolveu acelerar, para não deixar a gasolina solitária na casa dos R$ 6.

O pronunciamento do ministro da Fazenda para anunciar o pacote deu a entender que o PIB vai subir graças exclusivamente ao governo. Não tem nada a ver com o agronegócio, que Lula chama de fascista. Sim, o enorme crescimento dos gastos públicos pode até fazer com que o PIB cresça um pouco no primeiro momento, naquele patético “voo de galinha”, mas afeta a confiança no país, pressiona a inflação, que está acima do teto da meta, piora a economia de um modo geral. E Haddad também jura que é obra do governo a queda do desemprego, mesmo que a criação de empregos formais tenha caído pela metade em outubro e as perspectivas para 2025 não sejam tão boas.

Claro que o ministro não ia falar que a queda do desemprego começou logo depois do fim das medidas alegadamente contra a Covid, ainda no governo Bolsonaro, “o culpado de tudo o que se abate sobre o Brasil”. Dizer que o PT será sempre a solução é muito mais do que uma ironia, é uma piada de péssimo gosto. Haddad sabe que a situação é delicada, e talvez realmente a deseje. Então, se ele for visto por aí gritando “é hexa, é hexa”, provavelmente estará comemorando o empobrecimento do povo brasileiro.

 

 

 

Por Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em administração e marketing. Não estava feliz. Resolveu dar uma guinada na vida e estudar jornalismo. Trabalha desde 1988 em TV, onde cobriu de guerras e eleições a desfiles de escola de samba e competições esportivas. Passou pela Band, Manchete, Globo, Globo News, Sport TV e atualmente está na Rede TV.

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