Um despropósito que só existe no que há de mais atrasado na elite brasileira da casa grande e senzala. Escreve J.R. Guzzo.
16/12/2024 09:30
“No Brasil do governo Lula é artigo 100% ‘progressista'”
O ministro da Educação, Camilo Santana, é uma dessas pessoas que deveriam viver se escondendo pelos cantos. Não é que ele seja realmente pior que os outros – é muito ruim, mas fica dentro da nulidade-padrão do governo Lula. O seu problema é ser ministro da Educação no Brasil, justamente da Educação. E em qualquer sociedade em que se exija um mínimo de decência por parte do poder público, seria uma vergonha o sujeito dizer que é ele o responsável por um monte de ruínas tão miserável como é o ensino público brasileiro. Mas esse Santana faz o contrário do que deveria fazer. Em vez de se esconder, se exibe.
O Ministério da Educação, que vai gastar 200 bilhões de reais em 2025 para ensinar alguma coisa a alguém – isso mesmo, 200 bilhões de reais – é possivelmente a maior fábrica de ignorância líquida em operação hoje no mundo. Pegue um índice qualquer de avaliação internacional de qualidade da educação. Não tem erro: o Brasil está sempre entre os piores dos piores em aritmética elementar, entendimento de textos simples, capacidade de raciocínio lógico, ciência, tecnologia básica. Não é bom em absolutamente nada. A universidade é tão ruim quanto – ou talvez pior, porque gasta mais que o ensino básico numa população em que a maioria são analfabetos funcionais.
Obviamente, é impossível haver a mínima esperança racional de crescimento econômico (crescimento de verdade, não essa miséria de 3% que vem do Bolsa Família), melhores salários, criação e distribuição de riqueza e de renda, desenvolvimento efetivo e progresso social num país com o abismo educacional do Brasil. A esquerda detesta ouvir isso, mas é a ignorância, e não a “injustiça social”, que faz um país ser miserável. A educação fornecida pelo Estado brasileiro é hoje uma garantia de miséria perpétua. Em vez de distribuir conhecimento, só distribui taras ideológicas, sociologia marca barbante e ensinamentos inúteis.
O ministro da Educação, porém, faz questão de forçar a sua entrada no noticiário político, mesmo estando no elenco de coadjuvantes. Aí dá a lógica. Como ele não tem nada a mostrar de bom, porque seu Ministério não faz nada de bom, só consegue mostrar o pior. Em sua última obra, o ministro conseguiu emplacar a própria mulher no Tribunal de Contas do Ceará, onde a população com certeza está nadando em dinheiro e entende mais de tecnologia do que o Vale do Silício inteiro. Mulher de autoridade que fiscaliza as contas da autoridade é um despropósito que só existe no que há de mais atrasado na elite brasileira da casa grande e senzala. Mas no Brasil do governo Lula é artigo 100% “progressista”.
Eles dizem, é claro, que a mulher do ministro não vai fiscalizar as contas do marido, ou do chefe do marido no Tribunal de Contas. Vai limitar suas capacidades às contas do Ceará. Que sorte a nossa, não? Ainda bem que a administração Lula-3 e todos os gatos gordos pendurados nela não admitem nenhum tipo de conflito de interesse. Tribunal de Contas é uma coisa e Tribunal de Contas é outra coisa, certo? Brasil é Brasil. Ceará é Ceará. Comum, mesmo, só o cofre público que você enche todos os dias com o pagamento dos seus impostos. Só em 2024, e até o último dia 12 de dezembro, já tinham arrancado quase 3,5 trilhões de reais do seu bolso.
No caso, parece que estamos diante da última realização do governo Lula: o Bolsa Tribunal de Contas para as mulheres de ministros. Só até agora (e ainda há dois anos pela frente), nada menos do que cinco ministros já ganharam um emprego nos tribunais de contas para suas mulheres – Santana é apenas o último premiado. Está virando presente básico para as senhoras esposas de ministro, como uma bolsa Vuitton ou um tênis Gucci. Pensando bem, pode vir a ser, se já não é, um problema a mais para a ministrada. Estão sujeitos a ouvir em casa, a qualquer momento, a mulher dizer: “Se ela, e mais ela, e mais ela tem, por que não eu?”. A vida é dura em Brasília.
Por J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.