Opinião – O despertar cristão

Nossa sociedade materialista, hedonista e relativista não ajuda nessa construção de valores mais sólidos. Cabe ao indivíduo, então, buscar se desgarrar por conta própria. Escreve Rodrigo Constantino.

06/03/2025 10:43

“Essa nostalgia de Deus não é apenas um saudosismo religioso”

Foto: Ahna Ziegler/Unsplash

Na madrugada desta quinta-feira, 6 de março, um poderoso movimento de fé tomou conta do Brasil no segundo dia da Quaresma. Às 4h da manhã, mais de um milhão de pessoas estavam unidas em oração, clamando a Deus com fervor. Karina Michelin comentou sobre o fenômeno:

No Santo Rosário conduzido por Frei Gilson, 1 milhão de fiéis se reuniram espiritualmente, enquanto outras 150 mil vozes se erguiam em oração com a Comunidade Hesed. O silêncio da noite foi rompido pelo som da devoção, provando que, mesmo nas horas mais escuras, há um povo que não dorme, mas vigia e reza.

Mais do que números, esse encontro representou a força de um povo conservador, de valores inegociáveis, que coloca Deus no centro de sua vida. Em um mundo que tenta apagar a fé e enfraquecer os princípios que sustentam uma nação, esses brasileiros demonstraram que a oração tem um poder maior que qualquer coisa.

Essa pátria não será dominada. O Brasil pertence a Deus e continuará sendo terra de oração, resistência, FÉ e esperança.

Esse despertar cristão tem sido observado em várias ocasiões., não apenas na Quaresma A explicação talvez esteja num excelente texto de Carlos Alberto Di Franco publicado na Gazeta estes dias, chamado “Deus no comando”. O jornalista alega que a era moderna falhou em entregar a “libertação” prometida:

A modernidade prometeu liberdade, progresso e felicidade. No altar da razão e do avanço tecnológico, muitas sociedades relegaram Deus ao esquecimento, tratando a fé como um resquício de um passado supersticioso. Mas, paradoxalmente, quanto mais o mundo se afasta de Deus, mais cresce um sentimento difuso de vazio e inquietação.

Essa nostalgia de Deus não é apenas um saudosismo religioso, mas um sintoma profundo da alma humana. O mundo contemporâneo, dominado pelo relativismo e pela cultura do descartável, assiste a uma epidemia de ansiedade, depressão e solidão. As promessas do materialismo mostraram-se incapazes de preencher o anseio por transcendência. O homem moderno, fragmentado e desconectado, sente falta de um sentido maior para sua existência.

No mesmo dia, a coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha falava sobre as deficiências do liberalismo, que teria amputado sua perna moral: “O liberalismo moderno, econômico e político destruiu todas as referências que ao longo dos milênios conduziram a humanidade ao presente porque seu princípio lógico é de que tudo antes do indivíduo racional pleno era lixo a ser esquecido. Restou-nos o vazio de valores a não ser o dólar e a espada do Leviatã”.

O ser humano clama por sentido, pelo que é eterno, transcendente, enquanto é metralhado por lixo efêmero, passageiro e pueril. Não é culpa das redes sociais ou do capitalismo, claro, e basta pensar que foi a tecnologia que permitiu a união de um milhão de pessoas para orar com o Frei Gilson. Não adianta atacar as ferramentas e poupar o ser humano, que tem o livre arbítrio.

Mas sem dúvida o entorno faz diferença, e nossa sociedade materialista, hedonista e relativista não ajuda nessa construção de valores mais sólidos. Cabe ao indivíduo, então, buscar se desgarrar por conta própria dessas tentações e procurar Deus. De certa forma, a minha própria trajetória pessoal se assemelha ao fenômeno que podemos observar no Ocidente: o individualismo secular é insuficiente e acabamos sedentos por Deus em nossas vidas.

Thomas Merton, em “No man is an Island”, diz: “Aqueles que não sabem que existe outra vida depois desta, ou que não conseguem viver no tempo como se estivessem destinados a passar a eternidade em Deus, resistem ao silêncio fecundo do seu próprio ser através do ruído contínuo”. Talvez não exista mais ruído como fuga do que no período do carnaval, onde se enaltece a carne e os prazeres mais animalescos do homem.

Mas também é o começo do período de recolhimento, da Quaresma, tempo de conversão. A celebração da bênção e a imposição das cinzas feitas no início da Quaresma lembram as palavras de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. É alvissareiro ver o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, aparecer na imprensa com a marca da cruz em sua testa. Os cristãos não podem temer a patrulha dos seculares. A missão é clara: espalhar as Boas Novas. Não há nada a temer. É Deus no comando!

 

 

 

Por Rodrigo Constantino, economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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