O papel do ex-presidente, a partir de agora, é o de articulador político, não mais o de competidor. Escreve Elias Tavares.
11/04/2025 08:40
“Se a direita não compreender isso, poderá pagar caro”

Ex-presidente Jair Bolsonaro durante ato na Avenida Paulista no último domingo (6). Foto: EFE/ Isaac Fontana
Com Jair Bolsonaro (PL) declarado réu e sua a condenação avançando na mais Alta Corte, cresce a percepção de que sua candidatura à Presidência em 2026 é juridicamente inviável. Ainda assim, a insistência em mantê-lo como o centro das articulações políticas tem atrasado movimentos essenciais para a reorganização do campo conservador no país. E, aí, fica o alerta: se a direita não se reestruturar rapidamente, poderá comprometer sua competitividade no próximo pleito, quando são eleitos o presidente da República, governadores, senadores e deputados estaduais e federais.
Enquanto o campo progressista já está consolidado em torno da liderança do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o centro segue desarticulado, e a direita vive um impasse. A indefinição sobre a sucessão de Bolsonaro trava a construção de pré-candidaturas alternativas e enfraquece o discurso de renovação frente à máquina federal. Ao meu juízo, a direita precisa reconhecer que o ex-presidente Bolsonaro, agora considerado réu pelo STF, dificilmente vai se viabilizar para concorrer nas urnas no próximo ano. A obstinação ao seu nome, seja por parte do PL ou de aliados, paralisa o campo conservador e impede que novas lideranças avancem neste espaço.
Entre os players já citados publicamente como potenciais herdeiros deste filão estão o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que, mesmo, por vezes, distoando do discurso ideológico do Bolsonarismo, desponta como favorito entre os conservadores. Não podemos, ainda, nos esquecer de lideranças do calibre de Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais; de Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás; de Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná; e de Pablo Marçal (PRTB), que, na eleição municipal de 2024, teve nada mais, nada menos que 1,7 milhão de votos para a Prefeitura de São Paulo – a maior da América Latina. No entanto, há um consenso: sem o aval explícito de Bolsonaro, nenhum dos nomes acima conseguirá unificar a base, a direita, os conservadores do Brasil.
Tal impasse, inclusive, impacta diretamente os rumos do maior colégio eleitoral do país – o estado bandeirante. Caso Tarcísio decida disputar a Presidência, São Paulo se tornará peça-chave do rearranjo político. Mas se o governador permanecer no cargo e decidir, assim, concorrer à reeleição para o Palácio dos Bandeirantes, o vácuo na direita para a disputa do maior cargo eletivo do Brasil tende a resistir. Logo, o xadrez político paulista é decisivo no que tange à costura nacional.
Outro ponto não menos importante que deve ser considerado diz respeito à direita evitar divisões e apostar na união. Uma vez que, múltiplas pré-candidaturas no campo conservador farão com que o erro de 2022 volte à cena em 2026. Estou falando da pulverização de postulantes no primeiro turno, o que deixa o campo progressista, que comanda o País, bem confortável para a corrida às urnas.
Em suma: é preciso coesão e pragmatismo. Um ou dois nomes fortes no primeiro turno, seguidos de junção no segundo, é o caminho mais viável para que os conservadores tenham chance real de vitória. O cenário exige, inclusive, maturidade política. Não há como de negar que Bolsonaro, mesmo considerado réu pelo Supremo, segue como liderança influente, como referência para a direita. Contudo, o papel do ex-presidente, agora, é o de articulador, não o de competidor. Se a direita não compreender isso, poderá pagar caro – e entregar, mais uma vez, o comandando da oitava economia do mundo, o Brasil, para a esquerda.
Por Elias Tavares é cientista político; também graduado em Gestão Pública e em Marketing; especialista em Comunicação Eleitoral e em Marketing Político; e professor de pós-graduação; tem MBA em Administração Pública; em Gerência de Cidades; e em Inovação em Gestão Pública.