Opinião – Somente o capitalismo “egoísta” cria prosperidade para todos

O grande trunfo do capitalismo é transformar o interesse próprio, o desejo de alimentar e abrigar a si mesmo, em benefícios para os outros. Escreve Cody Cook.

11/04/2025 06:15

“Os mercados livres também oferecem uma forma poderosa de ajudar o próximo”

Produtos frescos à venda em um supermercado Whole Foods em Washington, DC, EUA, 14 de fevereiro de 2024: embora a generosidade pessoal tenha seu valor, são os mercados livres e o capitalismo — mesmo movidos pelo interesse próprio — que efetivamente criam prosperidade e soluções sustentáveis para problemas sociais em larga escala (Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO)

“Todo mundo quer uma revolução. Ninguém quer lavar a louça.”

Este ditado, frequentemente atribuído à ativista norte-americana Dorothy Day — embora não esteja claro se ela realmente o tenha dito — seria apropriado se tivesse partido dela. Co-fundadora do movimento Catholic Worker (Trabalhador Católico), Day abriu sua casa para os esquecidos e marginalizados, praticando a desobediência civil em defesa dos pobres e contra as guerras.

Porém, em meio a esses esforços incansáveis, ela percebeu que os ideais elevados de seus companheiros nem sempre se traduziam no trabalho árduo necessário para causar uma mudança real na vida das pessoas necessitadas que batiam à sua porta. Muitos queriam a revolução, sim, mas poucos estavam dispostos a lavar a louça.

Por que boas intenções não bastam — e o que realmente funciona

Uma das lições que os revolucionários compassivos precisam aprender é que, embora o mundo se beneficie da abnegação de pessoas como Dorothy Day, seu modelo de generosidade extrema simplesmente não é escalável. A “revolução do coração” que transformou Day não acontece com a maioria de nós — e aí reside o desafio.

Para criar o mundo que os revolucionários desejam, no qual ninguém passe fome ou durma ao relento porque os vizinhos se sacrificam uns pelos outros, a vasta maioria das pessoas teria que ser transformada. Todos teríamos que estar dispostos a, metaforicamente, lavar a louça.

No entanto, enquanto os revolucionários de coração lamentam um mundo que, segundo eles, reduz “os mais desfavorecidos” a engrenagens da máquina capitalista, algo extraordinário acontece bem diante de nossos olhos — a louça está, de fato, sendo lavada. Já na época em que Karl Marx e Friedrich Engels escreveram seu “Manifesto Comunista”, o processo estava em curso: a pobreza extrema global começou a cair (de 84% da população mundial em 1820 para 8,6% em 2018), a renda média disparou após milênios de estagnação, a escravidão começou a ser erradicada e as mortes precoces por doenças tratáveis passaram a diminuir.

O que provocou essa surpreendente virada para os menos favorecidos? Teria sido uma tomada de consciência coletiva, um esforço global inspirado nas advertências de São Basílio de Cesareia, que dizia que a roupa extra no armário era, na verdade, propriedade dos pobres? Os ricos venderam todos os seus bens para doar aos necessitados? Não. Podemos creditar essa transformação a uma palavra que faz muitos idealistas torcerem o nariz: capitalismo.

Existe uma grande lacuna entre o altruísmo que revolucionários como Day julgavam necessário para transformar o mundo e a quantidade real de altruísmo presente na sociedade. Poucos estão dispostos a sacrificar tudo pelos outros — mesmo entre os próprios revolucionários. Ainda assim, um progresso notável tem sido alcançado em um ritmo antes inimaginável.

A lição aqui é clara: a melhor sociedade não é necessariamente aquela que professa os ideais mais nobres, mas aquela que consegue oferecer o maior bem-estar possível, mesmo que poucos estejam dispostos a “lavar a louça”.

Que tipo de sociedade atende às necessidades e desejos da maioria, sem recorrer à violência ou exigir que todos se tornem santos? A resposta está na sociedade que valoriza os mercados livres.

No livro “Mere Economics” (Economia Simples, em tradução livre), os autores Art Carden e Caleb S. Fuller explicam o que motiva as pessoas, em uma economia aberta, a garantir que um cheeseburger chegue ao seu prato:

“Será que os criadores de gado, os produtores de trigo, os agricultores de batata, os caminhoneiros, os frigoríficos, os desenvolvedores de aplicativos e os garçons acordaram cedo ou foram dormir tarde pensando em alimentar você, especificamente? Não. Eles têm suas próprias famílias para sustentar, filhos para criar, comunidades a apoiar e interesses pessoais a perseguir.”

Adam Smith, economista pioneiro do século XVIII, teria concordado. Em “A Riqueza das Nações”, ele escreveu:

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da atenção deles aos próprios interesses. Não nos dirigimos à sua humanidade, mas ao seu amor-próprio, e nunca falamos com eles de nossas necessidades, mas das vantagens que podem obter.”

O grande trunfo do capitalismo é transformar o interesse próprio — o desejo de alimentar e abrigar a si mesmo e a seus entes queridos — em benefícios para os outros. Isso significa que aquele trabalho aparentemente trivial em uma cafeteria não é um esforço vão, mas uma vocação valiosa. Por meio dele, você não apenas se sustenta: você também agrega valor à vida de cada cliente que atende.

Portanto, o que pode parecer egoísmo, no nível da motivação, revela-se, na prática, reciprocidade, mutualismo e interdependência. O consumidor que compra abacates de um pequeno produtor mexicano talvez não tenha passado pela “revolução do coração” de Dorothy Day, mas, mesmo assim, faz algo por esse agricultor que a caridade pura dificilmente conseguiria: dá a ele dignidade, propósito e uma forma concreta de contribuir para o mundo.

Equilibrando generosidade e soluções de mercado

É importante esclarecer que essa defesa do capitalismo não despreza a generosidade pessoal. Cristãos como Dorothy Day e São Basílio são chamados por sua fé a serem generosos, independentemente da condição econômica do país onde vivem — e muitas pessoas seculares compartilham desse impulso.

Além disso, realidades como doenças mentais, deficiências, vícios e simples infortúnios criam problemas que os mercados, por si só, não conseguem resolver plenamente. Por isso, sempre precisaremos de pessoas dispostas a doar — desde o banqueiro que separa 10% de sua renda para um abrigo, até a ativista que abre sua casa para acolher os sem-teto.

Contudo, os mercados livres também oferecem uma forma poderosa de ajudar o próximo. Em vez de exigir sacrifícios pessoais constantes, podemos simplesmente permitir que nossos vizinhos prosperem por meio do trabalho honesto e da troca voluntária de bens e serviços. Em outras palavras, os mercados nos libertam do peso de tentar carregar o mundo nas costas, confiando na liberdade para gerar prosperidade.

Embora sempre haja momentos em que precisaremos “lavar a louça” para ajudar quem não pode se ajudar, é reconfortante saber que, em uma sociedade livre, a louça será lavada — e essa é uma promessa que poucos revolucionários podem, de fato, cumprir.

 

 

 

Por Cody Cook é pós-graduando em Teologia e vive na região de Cincinnati, Ohio (EUA). ©2025 FEE – Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Only ‘Selfish’ Capitalism Creates Prosperity for All

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