Opinião – Direita – Centro – Esquerda

O problema é que os extremos ridicularizam a opinião um do outro. Um é chamado de “esquerdista” e o outro de “direitão” como se fosse um xingamento. Escreve Renato de Paiva Pereira.

14/04/2025 05:27

“Desde que Lula se lançou na política, intensificou-se menção a espectros políticos”

Ilustração.

Desde que o Lula se lançou na política, intensificou-se a menção aos espectros políticos de direita e esquerda no Brasil. Quando explodiu a militância do Bolsonaro em 2018, aumentaram as citações e criaram o confronto explícito.

Mas, muitas pessoas ainda se confundem ao ouvir termos como direita, esquerda ou centro. Entendê-los de forma simples é importante para que cada cidadão saiba se, na média, seus valores se aproximam mais a uma ou outra corrente.

Na política, a direita é geralmente associada ao conservadorismo – viés que agrupa aquelas pessoas que defendem as tradições, a autoridade e a segurança. Essas, normalmente, pregam que o Estado deve se afastar da economia, deixando-a para a iniciativa privada. Já a esquerda quer aumentar o tamanho da administração pública e ampliar sua ingerência na vida das pessoas.

Na economia, os que se dizem de direita preferem o liberalismo econômico – o livre mercado, o empreendedorismo – permitindo que a concorrência regule os preços, respeitando as oportunidades individuais. A esquerda defende a ação do Estado na distribuição de riquezas, via benefícios, assistencialismo, educação gratuita, saúde para todos e, principalmente, variadas “bolsas” eleitoreiras.

Nos costumes, as posições são mais claras. A direita tende ao conservadorismo moral, valorizando estruturas tradicionais de família, defendendo posições mais rígidas em relação ao aborto, ao casamento e aos papéis sociais. Já a esquerda costuma apoiar maior liberdade individual, diversidade cultural, direitos das minorias e políticas sociais progressistas.

Quanto à religião, o espectro é semelhante. Pessoas da direita costumam valorizar o papel das instituições religiosas tradicionais na sociedade, vendo a religião como base moral importante. A esquerda, frequentemente, adota posições laicas, valorizando a separação entre igreja e Estado e o respeito às diferentes manifestações religiosas.

Quase ninguém é totalmente de direita ou de esquerda. Por exemplo, se alguém é favorável à liberdade da mulher de realizar aborto, é ateu ou não se opõe ao relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, é classificado como esquerdista.

Se acha que o SUS é um desperdício de dinheiro, que os diversos auxílios governamentais induzem à ociosidade e que todos têm o direito de andar armados, será classificado como direitista.

O problema é que os extremos ridicularizam a opinião um do outro. Um é chamado de “esquerdista” como se fosse um xingamento e o outro de “direitão” com a mesma conotação.

Mas, entre elas, existe o centro, posição mais moderada que, ao contrário da esquerda, defende o agronegócio, que aquela repudia. Entretanto, o faz sempre pregando a necessária preservação. Acredita que a escola deve ensinar o essencial, que as ideologias devam ficar de fora das salas de aula.

Também, contrapondo-se à direita, o centro condena o armamento geral da população. Pensa que cada um pode escolher seu par romântico, mas não glamoriza essa opção.

Por fim, os de centro não nutrem qualquer paixão por Lula ou por Bolsonaro e, embora condenem os extremismos, podem ser amigos tanto de um ruralista de direita (desculpem a redundância), como de um professor de sociologia esquerdista (rótulo também dispensável).

 

 

 

Por Renato de Paiva Pereira é escritor e empresário.

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