Opinião – Perdeu, mané!

A Justiça age para restringir a ação policial e constranger aquele que se arrisca para defender vidas e bens alheios, em nome da lei. A polícia prende e a audiência de custódia solta. Escreve Alexandre Garcia.

15/04/2025 16:07

“Hoje somos condenados a perder o que temos e ainda ouvir do assaltante um ‘perdeu, mané!’ “

Ilustrativa por Marcio Antonio Campos e Midjourney

O português me perguntou se é mesmo verdade que ele não poderia andar com relógio no pulso, celular na mão e carteira no bolso quando for ao Brasil em junho, rever o tio que emigrou há 15 anos. Vai desembarcar no Galeão e está com medo de balas perdidas e arrastões na Linha Vermelha. Respondi que o tio dele deve estar arrependido de ter deixado Portugal, onde se pode, em qualquer cidade, bebericar e conversar na mesa da calçada onde se deixa o celular e, na hora de ir embora, passar por um caixa eletrônico na rua escura, retirar umas notas de euro e ir a pé para casa, sem qualquer receio. O português me perguntou por que no Brasil não resolvem um problema tão grande de insegurança. Respondi que não querem. Ele deve estar pensado: “E são os brasileiros que fazem piada de português?”

Não contei para ele, para não dar tema para piada, que os brasileiros estão resolvendo o problema da segurança inventando nomes. O Ministério da Justiça virou Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Um ministro do Supremo acabou de proibir que a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo passasse a se chamar Guarda Municipal. E pretendem mudar a Constituição para fazer mudanças burocráticas nas relações entre as polícias. Parafraseando Garrincha, esquecem de avisar os bandidos. Ou, parafraseando Deng: não importa o nome da polícia, desde que pegue o bandido.

Se quisessem resolver, seria apenas fazer o óbvio: prestigiar a polícia, e não o bandido. No governo anterior, o simples clima de apoio à polícia deu ânimo à ação policial e encolheu o crime. Dizer que o bandido é uma vítima da sociedade, ou que o ladrão rouba celular apenas para tomar uma cervejinha, é estimular o crime e deixar a polícia ao abandono. O resultado é mais assalto, mais homicídio, mais vigarice, mais corrupção. E agora piorou: inventaram o crime político, que ocupa a polícia e os presídios, em lugar de estarem ocupados com assaltantes. A droga corre solta e solta as amarras do crime, além de financiar a compra de armas que subjugam a população e matam policiais.

A Justiça age para restringir a ação policial e constranger aquele que se arrisca para defender vidas e bens alheios, em nome da lei. A polícia prende e a audiência de custódia solta, se não for crime político. Burocracia nenhuma vai dar segurança e prender bandido, que deve achar tolice o que especialistas em segurança que nunca trabalharam na rua põem no papel. De novo uma paráfrase, agora de Monteiro Lobato: “Ou o Brasil acaba com o bandido, ou a insegurança acaba com o Brasil”. Já estamos presos nas grades, cadeados, alarmes, nossos medos. Deveríamos ter começado há 50 anos, mas deixamos o crime tomar conta até da soberania nacional. Hoje somos condenados a perder o que temos e ainda ouvir do assaltante um “perdeu, mané!”

 

 

 

Por Alexandre Garcia, colunas sobre política nacional publicadas semanalmente.

Tags: