Robôs fazem ciência: Em busca da droga miraculosa

01/03/2011 11:25

Criar máquinas capazes de realizar novas descobertas científicas é algo que está saindo do campo da ficção.

Um dos maiores exemplos na atualidade está no Reino Unido, onde a equipe do professor Ross King, da Universidade de Gales, trabalha há mais de uma década no desenvolvimento de Adão e Eva, dois robôs cientistas.

O objetivo da dupla automatizada é diminuir o tempo dos ensaios em laboratório para o desenvolvimento de novos fármacos.

Além disso, Eva, o modelo de segunda geração, permite encontrar drogas cujos compostos químicos são mais efetivos no tratamento de uma doença e de forma mais rápida e econômica.

Tal façanha é possível graças à capacidade que o robô tem de selecionar compostos, dentre os milhares armazenados em sua biblioteca, que surtirão mais efeito durante os ensaios no combate a determinada doença.

E o robô-cientista Eva consegue testar mais de um ao mesmo tempo. “Depois, o pesquisador humano analisa os resultados obtidos”, disse King.

Cientista sem cérebro

No caso do robô Eva, como a maioria dos robôs, seu principal trunfo ainda é ajudar no trabalho pesado.

“Mas mesmo com todos esses recursos é importante destacar que Eva ainda não possui inteligência artificial,” completou o professor, que participou nesta quinta-feira do Simpósio sobre Biologia Sintética e Robótica, organizado pela FAPESP e pelo Consulado Britânico em São Paulo.

“Hoje, o robô testa os compostos químicos disponíveis na biblioteca, mas não identifica padrões. A partir da próxima semana trabalharemos para que entenda o trabalho que executa,” revelou.

Nessa fase final de desenvolvimento, a meta é tornar Eva capaz o suficiente para identificar novos padrões – combinações de moléculas – que possam vir a ajudar no desenvolvimento de drogas mais eficazes para, em seguida, testá-las.

Cientista incansável

Embora incompleto, o robô cientista já mostrou do que é capaz.

Ao realizar experimentos em larga escala, Eva reduziu de forma expressiva o escopo de fármacos que a engenheira agrônoma Elizabeth Bilsland, da Universidade de Cambridge, precisaria testar em sua pesquisa com os parasitas Schistosoma, Plasmodium vivax e P. falciparum, e Trypanosoma cruzi e T. brucei, além da Leishmania.

“Cada parasita se desenvolve em diferentes condições. E, para criar novos fármacos, é preciso testar novos métodos. Eva testou mais de 15 mil compostos químicos de sua biblioteca para encontrar aqueles capazes de inibir as enzimas dos parasitas, sem danificar os genes humanos”, disse Elizabeth.

De acordo com a pesquisadora, com base nos ensaios para as doenças causadas pelos parasitas listados, o robô teceu uma rede de hipóteses até chegar a um fármaco com potencial para tratar de todas ao mesmo tempo, exceto a leishmaniose. “É o que podemos chamar de droga miraculosa”, ressaltou.

Mas ainda falta muito para a droga chegar ao mercado, uma vez que a hipótese criada pelo robô precisa ser validada. Essa fase do trabalho contará com a colaboração de cientistas da Unicamp e da Unesp.

Encontrando o alvo certo

Por conta do período que uma nova droga leva para ser lançada, Elizabeth destacou as pesquisas que vem realizando com remédios já disponíveis e aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), órgão do governo dos Estados Unidos.

“Algumas delas são aprovadas e indicadas para determinadas doenças, mas também têm potencial para o tratamento de outras. Testamos essas drogas no sistema que criamos e encontramos cerca de cinco que atacam também as enzimas de Trypanosoma e outras que atingem as enzimas do Plasmodium vivax”, explicou.

A finalidade desse estudo é reaproveitar medicamentos já existentes e aprovados para uso humano que sejam eficientes também em outras doenças.

“Durante uma visita a um hospital em Campinas, observei um caso em que um medicamento prescrito para problemas do coração foi utilizado para o tratamento da doença de Chagas, com bons resultados”, disse Elizabeth.

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