05/09/2011 09:45
Na universidade de verão do PSD Mário Soares disse que não devemos ser subservientes à Troika. Soares, o pai da democracia, disse também que “não é necessário chegar a extremismos” e que o memorandum de entendimento assinado com a Troika “não é uma Bíblia”.
Há três coisas que surpreendem nestas críticas. A primeira é que não houve período em que Portugal tenha sido mais subserviente para com o FMI do que em 83-85, quando Soares, então primeiro-ministro, recorreu a ajuda externa. É só ler a segunda Carta de Intenções enviada ao Fundo em 83 para perceber isso. Mais uma ajudinha: em 1990 Jacques de Larosière, o francês que dirigia o FMI, disse-me em entrevista que não tinha sido difícil negociar com Portugal. Porquê? Porque não havia margem: as divisas no Banco de Portugal davam para poucas semanas de importações…
A segunda é que Soares esquece-se que fomos nós que chamámos a Troika. Porque já não tínhamos quem nos emprestasse dinheiro…
A terceira é que Soares continua muito “ligeiro” (um grande eufemismo…) nas críticas. Quando confrontado com o que faria de diferente, disse “Não sei. Não sou ministro. Eles é que estão no Governo”. É o eterno problema de Soares: gosta de generalidades e esquece-se dos detalhes (v.g. a célebre confusão entre “milhares” e “milhões”).
Soares pode não gostar dos termos do memorandum imposto pela Troika (será que o leu?). Nenhum português gosta. E deve criticar o Governo por subir impostos sem cortar despesa (crítica frequente nesta coluna). Mas não pode sugerir “desobediência” em relação à Troika e à Bíblia que nos foi imposta. Porque a alternativa, tal como no seu tempo, existe: é a bancarrota.
Por:CamiloLourenço