Negros são 34,3% do mercado de trabalho

20/11/2011 11:38

Os negros e pardos representam, atualmente, 34,3% do mercado de trabalho do Grande ABC, com 433,8 mil trabalhadores. Embora esse percentual tenha crescido de setembro do ano passado para cá, quando eles somavam 367,2 mil, correspondendo a 29,1% do total, há uma década eles se mantêm em torno de um terço da população ocupada da região. Os dados foram extraídos da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese referente a setembro.

Isso denota que a inserção dos negros no mercado de trabalho praticamente não se alterou de 2001 para cá. Ou seja, ainda existem percalços a serem superados que, de acordo com especialistas, tratam-se de deficiências naeducação básica ocasionada pelas condições sociais e financeiras dessas famílias. Sem contar a questão do preconceito, que ainda é forte no ambiente profissional.

Para se ter ideia, de acordo com pesquisa do Seade/Dieese sobre a situação dos negros na Grande São Paulo (da qual o Grande ABC faz parte) em 2010, o rendimento médio por hora dos negros (R$ 5,81) representava 60,4% do rendimento do restante dos trabalhadores (R$ 9,62).

As maiores desigualdades de rendimentos são verificadas nos setores em que a proporção de brancos e amarelos supera a de negros, e os rendimentos médios são mais elevados: indústria, serviços e, em menor medida, comércio, em que os negros recebem, respectivamente, 58,9%, 59% e 66,4% dos rendimentos dos outros trabalhadores. Na construção civil, os negros recebem 70,7% dos rendimentos dos brancos e amarelos. E nos serviços domésticos, 99,3%.

Segundo o gerente de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian, um dos motivos que explicam isso é a concentração de negros em cargos de baixa remuneração – onde, ainda assim, existe diferença salarial. A maioria trabalha nos setores da construção civil e de serviços domésticos. “A maior parte deles é empregada em funções de menor prestígio social e trabalho menos formalizado, o que inibe, inclusive, a participação deles no setor público. Por isso, tem mais a ver com escolaridade do que com discriminação”, diz.

A consultora de recursos humanos da Stanton Chase Silvia Gerson discorda, contando que, se estão sendo entrevistados um negro e um branco, o negro tem que ser muito melhor do que o branco, mesmo que esse seja razoável. “Exige-se muito mais do negro. Por isso ele tem que demonstrar algum diferencial e ter atitude. Ele tem que ter uma história e saber contá-la”, afirma. Ela nunca entrevistou um negro para o cargo de diretoria em 13 anos.

Crescimento da economia contribuiu com inserção

A expansão da economia, que vem estimulando a geração de emprego desde o ano passado, incluiu no pacote negros e brancos. Porém, os negros e pardos acabaram ficando com a fatia mais simplória dos postos de trabalho, com menor remuneração e também menores exigências.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que, das 30.497 vagas geradas de janeiro a outubro, 13.470 foram abertas pelo setor de serviços. “É aí que eles entram, em funções que não exigem qualificação muito alta”, avalia Dalmir Ribeiro, diretor do departamento de Indicadores Socioeconômicos da Prefeitura de Santo André.

Isso acontece, para a consultora Silvia Gerson, em função da origem da maior parte dos negros e pardos que, por falta de recursos, começaram a estudar em escolas ruins e, muitas vezes, fora da época, o que leva aos Ensinos Supletivos. “Então, eles até conseguem cursar o Ensino Superior, mas, na hora de conseguir uma vaga, batem de frente com gente muito bem preparada. É raro entrevistar um negro que fale outra língua, como inglês e espanhol. Por terem essa origem sofrida, muitas vezes não acreditam em seu potencial, e são tímidos.”

Em países como os Estados Unidos essa disparidade é bem menor, pois lá o negro tem tantas chances de estudar quanto o branco, já que a Educação é um benefício social. “No Brasil, historicamente se tem a marginalização desse grupo. Não será por mudança em lei que a participação dos negros no mercado de trabalho será modificada. É uma mudança a longo prazo. Por isso sou contra as cotas, que não solucionam nada”, diz Ribeiro.

Fonte:Dgabc

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