27/02/2012 14:24
A quebra de mais um recorde na produção de milho safrinha, em Mato Grosso, está ameaçada. Desta vez a preocupação passa longe de fatores climáticos, mas, mais uma vez, está alheia à vontade do produtor. O cenário negativo reflete o atraso na entrega das sementes, que em muitos casos superam 30 dias, como também pela má qualidade do grão que está chegando às mãos dos produtores. Há relatos de troca de variedades, de sementes de qualidade inferior a que foi adquirida e até mesmo de ausência do produto, o que obriga o produtor a ultrapassar o período ideal de plantio, fator que por si só reduz a produtividade e a qualidade do milho.
Pela primeira vez, desde que a cultura passou a ser importante para o agronegócio estadual, o plantio poderia estar 100% concluído antes da virada do mês. Pelo menos, com a ajuda do clima, com a antecipação da colheita da soja e com a vontade do produtor – animado com o cenário remunerador do grão em 2012 – a cultura poderia ter encerrado o período de semeadura totalmente dentro da janela ideal de plantio, período que assegura o melhor desenvolvimento da planta no Estado. A intenção de cobrir 2,2 milhões de hectares, 25% acima do semeado na safra passada, e colher quase 10 milhões de toneladas, pode ficar apenas no planejamento já que há atrasos e produtores esperando para receber o produto, pago de forma antecipada às revendas e às multinacionais ainda em 2011.
O presidente do Sindicato Rural de Tapurah – município a 433 quilômetros ao norte de Cuiabá -, Silvésio de Oliveira, ainda aguarda a entrega de lotes de sementes. “Espero que entreguem o restante no início da próxima semana, no entanto, sei que vou finalizar o plantio em março, totalmente fora do período recomendado e em função disso, sei de antemão, que o risco de perdas é grande e o pior, exclusivamente meu”. Questionado sobre a possibilidade de guardar e utilizar as sementes para a safra seguinte (2013), Oliveira diz que elas não podem ser armazenadas por muito tempo, “por isso as entregas ocorrem sempre em janeiro, praticamente às vésperas do plantio para garantir que todas as qualidades do milho embutidas nas sementes se desenvolvam nas lavouras. Mesmo tardiamente, sou obrigado a plantar mesmo ciente do prejuízo”.
Oliveira e Tapurah não são exceções no Estado. Conforme uma pesquisa interna realizada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), das mais de duas centenas de produtores contatados quase 100% deles disseram que enfrentaram ou enfrentam problemas relacionados à entrega e ou à qualidade do produto. “No relatório que chegou na sexta-feira (24), a área plantada de milho no Estado atinge 81% da previsão. Podíamos ter encerrado os trabalhos se não houvesse esse problema. Não sei o que é pior, se é a demora na entrega ou se a entrega tardia de sementes de segunda linha, que vai germinar justamente fora da janela de plantio”, destaca o presidente da entidade, Carlos Fávaro. Ainda segundo ele, há relatos de sementes que estão plantadas e que não germinaram. “Temos um cenário de preços positivos, investimos na produção do milho comprando sementes e adubos de excelente qualidade, mas corremos um sério risco de ficar com prejuízos, já que o rendimento por hectare está comprometido”.
Ainda segundo Fávaro, as justificativas para os atrasos, vindas de algumas revendas e multinacionais, são as intempéries ocorridas na região produtora de Minas Gerais que prejudicaram o desenvolvimento da produção sob pivô. “Quando há um contrato de entrega, tem de ser cumprido. Se vale pra nós no momento que comercializamos a soja, tem de valer para o fornecedor”, enfatiza.
Como explica, diferente da soja que mesmo alterando variedades e ciclos (curto, médio e tardio) na hora de entregar ao produtor, a perda de rendimento é considerada mínima. “No milho, a diferença entre sementes ‘top’ e de segunda linha pode impor perdas de 20 a 30 sacas por hectare. Quem esperava colher até 150 sacas, poderá ficar frustrado”.
O produtor de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), André Lunardi, pagou ainda em dezembro, pelas mil sacas que comprou e que deveriam ter sido entregues no início de janeiro. “Recebi um mês depois somente após lançar mão de uma notificação judicial. Se não fosse assim tenho certeza de que não teria recebido nada e desde 30 de janeiro estava com mil hectares disponíveis para a safrinha apenas aguardando as sementes”. Ele lembra que durante todo o mês de janeiro tentou contato com a empresa, esperou pelos retornos e nenhuma satisfação era dada. “Infelizmente para poder plantar, tive de arcar com o custo da notificação”. De acordo com ele, a janela ideal na região finalizou dia 20, mas há hectares para serem cobertos, trabalhos que se segue até dia 2.
Fonte:Portaldoagronegócio