18/06/2012 10:02
O avanço da tecnologia precisa ser acompanhado de uma mudança de hábitos. Particularmente quando o objetivo é causar algum impacto positivo em relação a consumo. Para Jacqueline McGlade, diretora da agência ambiental europeia, a maneira como consumimos energia deve ser enxergada como um fenômeno social. Jacqueline deu uma palestra sobre o uso de energia na Europa durante o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro. O evento produzirá um documento com sugestões para os chefes de estado na reunião de cúpula da Rio+20, entre os dias 20 e 22 de junho, também no Rio de Janeiro.
A diretora acredita que não adianta cientistas e engenheiros desenvolverem tecnologia sustentável para a produção de energia se as pessoas não se conscientizarem sobre a necessidade de mudança de comportamento. “Famílias que recebem a mesma quantidade de dinheiro podem ter um impacto no meio ambiente muito diferente por causa das escolhas que fazem”, diz. “Dependendo do transporte que você escolhe, dos produtos que compra e do tipo de energia que seu lar recebe, uma família pode ter uma pegada de carbono até quatro vezes maior do que outra de condição financeira semelhante”.
A verdadeira economia de energia, acredita Jacqueline, virá da educação. “As pessoas precisam entender de onde vem a energia que elas consomem para tomarem decisões conscientes e trazer o debate do desenvolvimento sustentável para as comunidades onde vivem”.
A senhora disse que o consumo de energia é um fenômeno social. O que isso significa exatamente? As escolhas que cada lar faz no consumo de energia têm impacto em tudo. São escolhas como a fonte de energia que é usada para eletricidade, quais meios de transporte os membros da família utilizam para viajar e se movimentar pela cidade e assim por diante. Cada lar tem um modelo de consumo. Ao redor do planeta, é possível encontrar lares que recebem a mesma quantidade de dinheiro, mas que no fim das contas uma tem uma pegada de carbono até quatro vezes maior do que a outra, apenas por causa dos costumes. Ou seja, não estamos falando de tecnologia nem de dinheiro. É possível reduzir o impacto que o consumo de energia têm no ambiente apenas modificando nossas escolhas de vida.
Isso significa que as pessoas terão que mudar o estilo de vida que levam? Como seria esse novo estilo de vida? Sim, elas precisam mudar. Vamos continuar fazendo essencialmente as mesmas coisas. Ainda viajaremos, mas escolheremos o transporte público, por exemplo, em vez de cada membro da família ter um carro. Os lares terão energia, mas as pessoas têm que fazer uma escolha consciente sobre quais são as melhores fontes disponíveis, se são renováveis, por exemplo. Se essas fontes não existirem onde moram, essas pessoas precisam forçar o diálogo com as autoridades para conseguir fontes de energias mais sustentáveis em suas comunidades e entender de onde elas vêm.
Como será possível estimular que as pessoas ajam dessa maneira? Com educação. Todas as vezes que me sento ao lado de crianças a partir de quatro anos, aqueles que estão engajados em projetos relacionados ao meio ambiente têm muitos atributos diferenciados. Melhor comportamento social, por exemplos. Eles também tendem a envolver os pais e isso ocorre em qualquer país do mundo. Essas crianças entendem o que significam as emissões de carbono e algumas vezes compreendem o rótulo dos produtos. Tudo isso porque elas estão mais envolvidas em projetos ambientais nas escolas. Isso é verdade no mundo todo, seja África, Índia, Europa ou América Latina.
Quanto tempo levará para que a energia renovável tenha preços competitivos em relação às fontes de energia tradicionais? Ela já tem um preço competitivo. Se retirarmos os subsídios que os combustíveis fósseis recebem, as energias renováveis, como eólica e solar, já possuem um preço semelhante. Há cinco anos, os combustíveis fósseis eram sete vezes mais subsidiados que a energia renovável. Agora, as fontes alternativas estão recebendo incentivos, mas estamos pedindo que esses subsídios tenham um critério de sustentabilidade quando for criado. Aprendemos nossas lições. O que não fizemos com os combustíveis fósseis, precisamos fazer agora. Não podemos simplesmente usar energia a partir de biomassa, eólica ou hidroelétrica, porque cada uma dessas fontes tem seus impactos ambientais.
Por que demoramos tanto para fornecer subsídios para as energias renováveis? Porque houve grandes investimentos de longo prazo nos combustíveis fósseis. O que já aconteceu na Alemanha e Dinamarca, por exemplo, há uma grande demanda social para mudança. A partir daí, as alterações ocorrem rapidamente por causa da pressão popular. Enquanto alguns países conseguem fazer isso por causa da flexibilidade de suas indústrias, isso pode não ser verdade para outras nações do mundo, principalmente as mais pobres. Por isso é importantíssimo que as negociações ocorram e os países encontrem formas de ajudarem uns aos outros.
Os países em desenvolvimento sugeriram a criação de um fundo de 30 bilhões de dólares para fomentar o desenvolvimento sustentável. A conta seria paga pelos países desenvolvidos. É desse tipo de ajuda que está falando? Não há problema nesse tipo de pedido, para colocar mais dinheiro na negociação. A criação de um fundo é importante porque esses problemas precisam de recursos para ser endereçados, mas antes é preciso definir como esse dinheiro será gasto. Todos precisam entender como a energia é gerada para enxergar onde e como o dinheiro deve ser gasto. Os países europeus estão cautelosos porque querem entender como o recurso investido vai promover mudanças. Queremos ver metas claras, não necessariamente números, mas aspirações que mostrem como os objetivos serão alcançados.
Fonte:Veja