Produção de mel ajuda a recuperar bioma de Alagoas

24/07/2012 08:27

Naqueles manguezais prolifera-se uma planta, o rabo de bugio, a partir da qual as abelhas produzem o chamado “ouro vermelho” – um tipo de própolis bastante valorizado pelo mercado japonês devido às ações terapêuticas, inclusive contra tumores. Um quilo do produto bruto custa em torno de R$ 500, pagos por atravessadores que produzem um extrato e lucram oito vezes mais. “Como a lagoa já não estava para peixe e no manguezal os caranguejos diminuíram, a solução para o sustento das famílias foi achada nas colmeias”, conta Cabral, que dobrou a renda e escapou dos impactos dos rios poluídos sem apelar para atividades causadoras de desmatamento.

Produzir mel naquela região contribui para a conservação. Os apiários são instalados em áreas já desmatadas no passado. “As abelhas, agressivas, inibem forasteiros que chegam para cortar o manguezal ou construir casas em área de proteção ambiental”, ressalta o produtor Edvan Moraes, 29 anos, integrante da associação local que agora se mobiliza para fazer o beneficiamento da própolis vermelha e alcançar valores hoje restritos aos intermediários. “É o caminho para os jovens se fixarem no meio rural, evitando o assédio nem sempre saudável das grandes cidades”, completa Moraes, também ex-pescador que começou a plantar mudas de manguezais para engordar a galinha dos ovos de ouro.

A capacitação dos apicultores para a mudança de atividade faz parte de um programa de educação ambiental que abrange 37 municípios nas bacias dos rios formadores das lagoas de Mundaú e Manguaba, que inspiraram o nome do Estado. “É um trabalho que produz conscientização das novas gerações e cobrança por políticas públicas locais, principalmente em relação ao lixo e saneamento”, explica Milton Pradines, gerente de relações institucionais da Braskem, que opera uma fábrica de cloro-soda em Maceió. A empresa apoia o programa Lagoa Viva, do qual até o momento participaram 150 professores para multiplicação do aprendizado sobre a importância dos ambientes lagunares e sua conservação.

Com 80 km^2de superfície, o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, situado nos arredores da capital com mais de 30 ilhas exploradas pelo turismo, é cercado por dunas, recifes de corais, manguezais e remanescentes de Mata Atlântica. “Trata-se de um mosaico de ambientes naturais sob ameaça, principalmente por parte do esgoto doméstico lançado pelas cidades do interior nos dois principais rios que formam as lagoas”, adverte Christiane Rodrigues, coordenadora pedagógica do programa, durante expedição de barco com professores para a percepção dos problemas in loco.

“A pressão urbana é um dos principais riscos”, atesta Adriano Araújo, presidente do Instituto do Meio Ambiente (IMA), agência ambiental de Alagoas. Ele conta que na expansão desordenada da capital, por exemplo, foram aterrados 200 hectares da lagoa para instalação de condomínios sem tratamento de esgoto, despejado no ambiente aquático.

Sem proteção das margens por matas ciliares, os rios que formam a lagoa descarregam grande volume de barro e lama, causando índice de assoreamento insuportável para a atividade pesqueira. Como resultado, a produção diária de sururu, importante crustáceo da alimentação regional, diminuiu de 5 toneladas para 1,5 tonelada, em média, afetando a renda de 5 mil pescadores. “É preciso reduzir o impacto dos sedimentos e aumentar o fluxo da água do mar na lagoa para o sururu se reproduzir como antes”, adverte Araújo.

Com objetivo de dimensionar os passivos e fazer dragagens e outras intervenções necessárias à recuperação das lagoas costeiras, o IMA estabeleceu parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) para iniciar as medições de batimetria, que avaliam o volume de sedimentos. Estudo anterior revelou que o complexo lagunar recebe em média 43 mil metros cúbicos por mês, mas uma pesquisa mostrou que o volume atingiu 50 mil metros cúbicos, em apenas três dias, durante as enxurradas de 2010, que causaram mortes e deixaram mais de 5 mil desabrigados nas cidades banhadas pelos rios no interior do Estado. “Após o desastre, seis municípios da bacia do Mundaú formaram um consórcio para a gestão do lixo e ações educacionais que existiam isoladamente nas escolas passaram a compor um único programa”, informa Josafá Campos, secretário de meio ambiente de União dos Palmares, integrante do Lagoa Viva.

Em Murici, um dos mais atingidos, crianças aprendem a fazer horta para abastecer a merenda na escola da Fazenda Gravatá e, no Distrito do Muquem, comunidades quilombolas reflorestam as margens do rio enquanto aguardam a entrega de novas casas construídas pelo governo.

Fonte:Portaldoagronegócio

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