Dilma é recebida com protestos na Arena e ignora imprensa

25/04/2014 02:00

No estádio, Dilma foi recebida por protestos de policias federais, militares e membros da sociedade civil organizada, que questionavam o descaso dos governos Estadual e Federal com a estruturação das entidades de Segurança Pública e os gastos da União para a realização da Copa do Mundo.

Depois de horas de espera sentados na arquibancada, os repórteres precisaram ficar afastados da presidente. Durante a visita, só fotógrafos e cinegrafistas foram autorizados a entrar no gramado.

No total, a visita da presidente à Arena Pantanal durou cerca de 20 minutos.

Nesse período, Dilma entrou na obra pelo túnel do setor Norte, acompanhada de sua comitiva e do governador Silval Barbosa (PMDB), e desceu as arquibancadas do setor Leste, onde se encontrou e tirou fotos com alguns dos operários que trabalharam na obra.

A presidente posou para fotos, caminhou pelo campo de futebol e se despediu do local, sem falar com os jornalistas.

Até a semana passada, o Governo do Estado esperava inaugurar o estádio com a presença da presidente, mas, com 99% da obra pronta, a arena ainda passa pelo processo de instalação de assentos, limpeza e acabamento.

Após passar pelo estádio, Dilma seguiu para o quartel do 44º Batalhão de Infantaria Motorizada, localizado na Avenida Lava Pés, no bairro Duque de Caxias, onde pegou um helicóptero e seguiu para o Cenarium Rural, no CPA, para participar da formatura de alunos do Pronatec, no seu último compromisso em Cuiabá.

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Durante a visita, a presidente Dilma tirou fotos com os operários que trabalharam na obra

Manifestações

Do lado de fora do estádio, a presidente se deparou, tanto ao chegar quanto ao ir embora, com protestos de policiais federais, militares e um grupo de jovens que possuem um grupo de discussão política em redes sociais.

Acompanhando um grupo que carregava uma faixa com a pergunta “Dilma, por que você não veio de VLT?”, o advogado André Barcelos disse que essa foi a forma encontrada por eles para provocar “uma reflexão” na presidente e na sociedade quanto às obras de mobilidade urbana, que já deveriam estar finalizadas na Capital.

“Quando Cuiabá foi escolhida como uma das sedes da Copa, a proposta que nos foi apresentada foi de que a Capital teria obras para virar uma cidade do futuro, melhorando a questão da mobilidade urbana, que já estava caótica há cinco anoss. O que nós vemos agora? Nada”, disse.

Observando que das 56 obras prometidas para Cuiabá e Várzea Grande, o Governo do Estado promete entregar apenas 14 até o Mundial, Barcelos defendeu que o dito “legado da Copa é uma falácia”.

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Do lado de fora, policiais militares, federais e grupos faziam manifestações

“O que vai sobrar pra gente são buracos nas ruas, tapumes e uma dívida impagável. Quero ver quem vai se responsabilizar por isso no ano que vem, quando passar o período eleitoral. Quem vai arcar com isso seremos nós, cuiabanos e várzea-grandenses, que continuaremos a vivenciar todas as mazelas que já temos por falta de estrutura, de investimento. Eles brincam com o nosso dinheiro e nós temos que manifestar em outubro, através do voto consciente”, afirmou.

“Polícia de Governo”

Reivindicando aumento salarial e de efetivo e fim do uso da Polícia Federal como “Polícia de Governo”, agentes federais também estiveram na área externa da Arena Pantanal, dando continuidade em Mato Grosso à paralisação realizada na quarta-feira (23), em todo o Brasil.

Os agentes tentam entregar um documento com a lista de reivindicações à presidente, mas ainda não tiveram sucesso.

Segundo o membro do Sindicato dos Policiais Federais em Mato Grosso (Sindipef), Paulo Gomes, Dilma conhece todas as exigências feitas pela categoria, mas “faz de conta que não sabe”.

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“Ela utiliza a PF como Polícia de Governo”, diz o membro do sindicato da categoria, Paulo Gomes

“São as mesmas reivindicações que todos já conhecem, potencializadas pelos últimos atos dela de utilizar a Polícia Federal como uma polícia de governo. Ou seja, em todas as operações feitas pela PF, nós precisamos informar ao Governo quem está sendo investigado. Como é que você vai deflagrar uma operação já avisando quem vai ser o preso? Porque a nossa clientela maior é o próprio Governo”, disse.

Segundo Gomes, atualmente, o servidor de carreira da PF ingressa na corporação recebendo cerca de R$ 7,3 mil (salário bruto) e encerra a carreira com, no máximo, R$ 11,8 mil, o que tem provocado aumento da evasão da entidade.

“Para entrar na PF, o candidato precisa ter curso superior. Mas quando entra, ele recebe como nível médio. E isso está acontecendo só com a PF. Na Abin (Agência Brasileira de Inteligência), por exemplo, o salário inicial é maior do que um final de carreira nosso: R$ 13 mil”, afirmou.

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“O que vai sobrar pra gente são buracos nas ruas, tapumes e uma dívida impagável”, critica o advogado André Barcelos

De acordo com Gomes, o efetivo da PF em Mato Grosso é de aproximadamente 280 policiais distribuídos em todo o Estado, tanto na Superintendência em Cuiabá quanto nas delegacias no interior, quando a necessidade era de que o efetivo fosse, pelo menos, três vezes maior.

Hoje, a Polícia Federal manteve em funcionamento apenas o atendimento ao público para a confecção de passaportes e os plantões no Aeroporto Marechal Rondon, nas delegacias e na Superintendência.

“Os demais serviços foram todos paralisados hoje”, disse.

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