07/08/2015 11:24
Ignorar o crime e o seu autor é alimentar a impunidade. E isto contraria qualquer preceito democrático
Atribuem-se aos antigos gregos a invenção da política. Esta, desde então, se tornou uma atividade de todos os integrantes de uma comunidade, não de meia dúzia de pessoas.
Assim, a palavra, associada à ação, se fez necessária e importante. Imprescindível, portanto, na democracia. Regime que tem na liberdade um de seus mais eficientes esteios.
Pois, no Estado democrático e de direito, nenhum integrante pode ser impedido de se posicionar, de se expressar, de divulgar seu ponto de vista sobre quaisquer assuntos, em especial a respeito daqueles que se encontram na pauta das sessões do Parlamento, dos que estão sobre a mesa da política e na agenda da imprensa, a exemplo das prisões resultantes da Operação ‘Lava Jato‘.
Opinar sobre essas prisões está longe de ser uma prerrogativa tão somente dos juristas.
Até porque os detidos, segundo os noticiários, são acusados ou de pagamentos ou de recebimentos de propinas, com prejuízos enormes para os negócios públicos e para a maior empresa do país, a Petrobras.
Daí a necessidade do inteirar-se de tudo ou quase tudo, bem como o de ter-se uma leitura a respeito. Ainda que não seja um juízo abalizado pela ótica jurídica, e, na imensa maioria das vezes, não é mesmo.
Nem deveria sê-lo, uma vez que o tecido populacional não é no seu todo formado por bacharéis em Ciência Jurídica.
Por outro lado, um dado acontecimento deve ser analisado por pessoas variadas, letradas ou não, e por meio de uma maneira específica. O que promove as mais variadas leituras. E isso é o ideal, pois realça a pluralidade das opiniões. Sempre alicerçadas pela fundamentação, pela argumentação.
Isto significa dizer que não basta associar-se a uma referida causa, mas é preciso saber o porquê se está associando a ela.
Todo posicionamento, vale lembrar, carece de um porquê, de uma razão e de uma justificativa plausível, isto é, da argumentação.
Detalhe, contudo, ignorado por alguns brasileiros tidos de esquerda, tal como o cineasta Luiz Carlos Barreto que, juntamente com uma dezena de escritores, atores e cantores, saiu contra a prisão de José Dirceu.
O cineasta, por exemplo, argumenta que não se respeitou a história de vida e a trajetória política do ex-ministro no governo Lula da Silva.
Sempre se deve respeitar a vivência política e a história de vida de todas as pessoas, independentemente da posição política tomada.
O que não pode, nem deve é transformar a história de vida e a trajetória política em escudos, em guarda-chuvas para esconder o crime que alguém cometeu.
Ignorar o crime e o seu autor é alimentar a impunidade. E isto contraria qualquer preceito democrático e desmorona o esteio que sustenta o Estado de direito.
Por LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.
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