Domingo e o espectro da crise

17/08/2015 09:44

Se Dilma Rousseff sair do Governo, haverá quem acredite que só por isso as coisas irão melhorar?

A palavra da vez é crise. Nos jornais, na TV, nas conversas, é o que se ouve. Vivemos uma crise, certamente. Mas que espécie de crise? Qual a sua dimensão? Onde a sua origem? Quem são os seus pais?

Enfim, como analisar a crise atual do Brasil? Compreendê-la é fundamental para enfrentá-la e decifrá-la. Mas, de igual modo, são tão vários os seus prismas que talvez existam n interpretações para o mesmo fenômeno, e assim é que existirão as mais variadas formas de ver essa crise.

Em princípio, e a história assim tem mostrado, apesar das agruras no momento de seu epicentro, uma crise pode resultar numa situação salutar. A origem do termo está no grego, [krisis], com o significado de decisão, de julgamento.

Assim toda a questão está na competência decisória para escolha do melhor caminho. Daí que são muito importantes as respostas certas para as indagações acima feitas.

Que crise o Brasil vive hoje? O governo, no poder há mais de uma década, malbaratou os fundamentos da política econômica, estabelecidos, sobretudo a partir da implantação do real e da política de responsabilidade fiscal.

Resultado, a inflação está aí corroendo os salários e jogando no desemprego centenas de milhares. E a denominada crise política corrói o mínimo de governabilidade existente.

O governo parece estar à deriva. E o curioso é que ele se sente afrontado não pela oposição, o que seria até natural, mas precisamente para aqueles a que foram entregues cargos e sinecuras, ou seja, a chamada “base aliada”.

Existe saída para essa crise? Depende daqueles que estão à frente do processo decisório. E neste aspecto, parece que a saída não indica um futuro dos mais brilhantes. Até porque uma das formas mais indicadas para a escolha do caminho mais correto para se sair de qualquer crise é ter a humildade de reconhecer os erros cometidos.

O líder maior do atual governo reluta em aprender isso. Vejam a declaração dada nesta terça-feira (11), em evento em Brasília: “A única coisa que nós sabemos é que não foi o povo trabalhador que criou a crise econômica mundial. Foram os banqueiros internacionais.

A crise não nasceu em Quixeramobim, a crise não nasceu em Garanhuns ou muito menos em Maceió. A crise não nasceu em Brasília. A crise nasceu no coração dos Estados Unidos, a crise nasceu no coração da Europa”. E, arrematou dizendo, sempre contraditoriamente: “Nós vivemos algumas dificuldades, que não é uma dificuldade da presidenta Dilma.

Não é uma dificuldade de nenhum de vocês individualmente. É daquelas dificuldades que a gente não sabe quem foi que criou”.

Ora, o governo está no poder há doze anos e acha que é mais fácil criticar o mundo do que reconhecer os seus inúmeros e variados erros. É claro que, com esse tipo de liderança, não se chegará a lugar algum.

Muito menos tendo como protagonistas esses que, perdedores no debate democrático, ameaçam, como se viu com o chamamento feito pelo presidente da CUT nesta semana, para o enfrentamento “pelas armas”. Mas neste passo, deixemos para as providencias que certamente o Ministério Público Federal adotará.

A outra forma de fazer política é com a força do povo. Mas de nada adiantará, como já ficou provado, se esse povo não tiver clareza dos fatos. Focar todas as críticas só na presidente Dilma não é uma questão de injustiça, é burrice. É que o governo não é só a presidente.

Nas manifestações não se tem condenado com a veemência necessária os aliados do governo e do seu partido, aqueles que ajudaram a colocar o seu antecessor e a ela no poder, e que até bem pouco lhe deram apoio e que agora só a criticam porque o barco está fazendo água.

Ora, se a presidente se enfraquecer ainda mais, ou mesmo sair do governo, haverá quem acredite que só por isso as coisas irão melhorar?

Os seus outrora aliados, tanto em Brasília como nos Estados, continuarão com a mesma política, permanecerão na mesma prática.

Por SEBASTIÃO CARLOS GOMES DE CARVALHO é advogado e professor. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB [RJ].
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