18/08/2015 11:04
Por muito tempo eles foram o motor da economia global, mas agora precisam se preparar para uma conjuntura bem mais difícil.
O Banco Central dos Estados Unidos – o Federal Reserve (Fed) – poderá elevar a sua taxa de juros no mês que vem. Para os países emergentes, a perspectiva de que isso aconteça é assustadora. Até há pouco uma garantia de crescimento para a conjuntura mundial, esses países precisam agora se preparar para os tempos difíceis com reformas e investimentos, alertou o Banco Mundial em relatório divulgado há algumas semanas.
“Os países em desenvolvimento foram um motor do crescimento global após a crise financeira, mas agora precisam se preparar para um ambiente difícil”, afirmou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim. O crescimento deles deverá ser de 4,4% este ano, 0,4 ponto percentual abaixo da última estimativa feita pela instituição.
No caso do Brasil, a queda na previsão é especialmente drástica. O Banco Mundial prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caia 1,3% em 2015. A perspectiva também é pior para México, Argélia e Turquia.
“O Brasil, com o seu escândalo de corrupção no centro das atenções, tem tido pouca sorte, afundando no crescimento negativo”, afirma o economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu.
O esperado aumento da taxa de juros pelo Fed poderá restringir o fluxo de capital e aumentar o custo do crédito, explica Basu. Em outras palavras: investidores vão retirar seu dinheiro dos países emergentes, considerados por eles inseguros, e vão investi-lo nos Estados Unidos, já que, com juros maiores, os rendimentos também sobem.
No geral, os países afetados poderão ter um recuo de 1,8% nos investimentos externos, prevê o Banco Mundial. Países exportadores que já sofrem com a queda nos preços das commodities, como petróleo e carvão, sentirão ainda mais os efeitos.
“Se olharmos a situação do Brasil, as exportações no primeiro trimestre deste ano ainda tiveram um desempenho muito bom”, afirma Lutz Karpowitz, especialista em países emergentes do banco alemão Commerzbank. Já no caso da Rússia, uma grande exportadora de petróleo, as dificuldades econômicas são bem maiores.
A China, por sua vez, é um caso clássico de país que consome uma grande quantidade de matérias-primas. “Não é possível colocar todos no mesmo saco”, afirma o especialista.
Além da queda dos preços das commodities e da política de juros do Fed, a desaceleração econômica da China afeta muitos países emergentes e em desenvolvimento – “uma mistura perigosa”, como afirma o jornal alemão de economia Handelsblatt.
Em julho, as importações chinesas caíram 8,1% em comparação com o mesmo mês do ano anterior. As importações do Brasil e da Índia encolheram cerca de 23% nos sete primeiros meses deste ano. Como a fome da China por commodities diminuiu, o preço do cobre e do minério de ferro despencou. Países como Chile e Peru, mas também Austrália e Canadá, sentiram o baque, afirma o jornal.
Os pontos fracos das economias emergentes são bem diversos. “Muito bem posicionada está a Índia, onde o deficit da balança comercial foi drasticamente reduzido”, afirma Karpowitz. “Se os indianos não importassem tanto ouro, teriam até mesmo um superavit na sua balança comercial.”
Para o especialista do Commerzbank, a Índia é um dos países que crescerá mais em 2016 do que em 2015. Indonésia e Malásia também estão nesse caminho – o dos países que, para ele, “têm uma situação econômica que melhora”.
Já a Rússia está em situação crítica, segundo o economista. Muita coisa depende de o Banco Central conseguir conter a alta da inflação. “Se isso falhar, o mercado cambial vai punir claramente o rublo, e isso criaria sérios problemas na Rússia”, opina Karpowitz.
Em comparação com outros países emergentes, os chineses jogam em outra liga, afirma o especialista. É verdade que o desaquecimento econômico e a ameaça de uma bolha imobiliária causam preocupações, mas a China pode – ao contrário de outros países – usar suas enormes reservas para estimular a economia ou, numa situação de emergência, até mesmo assumir o pagamento de empréstimos.
“É sempre difícil para um país quando ele fica em apuros e não pode fazer nada por conta própria. Mas esse não é o caso da China”, afirma Karpowitz.
Para outros países emergentes e em desenvolvimento, o fator tempo desempenha um papel importante na solução de seus problemas financeiros. “Se eles não tiverem mais o dinheiro que necessitam para pagar suas abundantes importações, então terão inevitavelmente que gastar menos”, afirma o analista, que cita como exemplo a crise asiática no final do último milênio.
Naquela época, era possível ver uma clara melhora no saldo da balanças comerciais. Isso não ocorreu porque a situação melhorou, “mas simplesmente porque não havia mais dinheiro para ser gasto”.
O especialista chama essa inevitável fraqueza econômica de “uma tempestade depuradora”. A maioria dos países conseguiu se recuperar de forma relativamente rápida após a crise asiática. “E alguns deles conseguem ainda hoje obter superavit”, diz Karpowitz.
Por Deutsche Welle em Carta Capital