19/08/2015 10:01
O problema para os políticos é que a área, diferente da Educação e transporte coletivo, dá e tira votos
O SUS, criado pela Constituição e 1988, atende 75% da população brasileira, desde a parte ambulatorial às intervenções mais sofisticadas.
Seus números de atendimentos são superlativos, mas cada dia mais recebe críticas.
Pesquisa Datafolha, encomendada pelo Conselho Federal de Medicina, mostra que 70% dos usuários não gostam do atendimento e também da espera para ser atendido.
Como exemplo disso, em Cuiabá, 46 mil pessoas aguardam na fila para consulta com especialistas. Para cirurgia têm-se nove mil aguardando.
A melhor coisa para um prefeito do interior é uma ambulância para mandar pacientes para a capital. E a Assembleia Legislativa está mandando outras mais.
O grande debate em torno do SUS centra-se em recurso e gestão. Reclama-se que falta mais dinheiro, outros rebatem que a gestão tem que ser melhorada.
Alega-se que quando havia a CPMF ou o imposto do cheque para a saúde, o serviço prestado também deixava a desejar.
Outros entendem que se deveriam estabelecer metas ou indicadores na saúde a se alcançadas para forçar a gestão a funcionar melhor.
Citam-se sempre que o próprio governo federal reconheceu que a gestão é capenga ao criar uma espécie de OSS pública para gerir os hospitais universitários.
Na verdade, nem precisaria essa discussão,o SUS precisa mesmo de uma gestão mais eficiente e também de mais dinheiro.
Os estados colocam 12% de suas receitas na saúde, os municípios 15%. A União não tem um número fixo.
Deve investir na saúde, é a regra, o que investiu no último ano com a variação do PIB do ano antecedente.
O Brasil aplica pouco na saúde pública ou 4% do PIB nos três níveis de governos. Países europeus e Canadá aplicam o dobro disso.
Segundo a OMS, o Brasil gasta 512 dólares por pessoa por ano. França, Alemanha, Canadá chegam a quase quatro mil dólares. Inglaterra acima de três mil e Espanha mais de dois mil dólares.
Nos EUA quase todo mundo paga um plano de saúde. Tem, com restrições, o medicare para pessoas acima de 65 anos e o medicaid para pobres. Agora tem o Obamacare.
Voltando ao SUS. Tem muita discussão e propostas para se ter mais dinheiro para a saúde pública.
Uma seria a volta da CPMF e aplicada totalmente em saúde e não tirar nacos dela para outras áreas. Outra seria o governo federal crescer, aos poucos, o bolo orçamentário para a saúde para 10% da receita.
Uma terceira, fazer os planos de saúde pagar pelo atendimento de um segurado pelo SUS.
Apareceu recentemente mais uma alternativa. O SUS atenderia por faixa salarial.
Quem tivesse renda num patamar pagaria um percentual pelo atendimento até chegar à pessoa que, por ter renda pequena, não pagaria nada. Uma proposta que dificilmente vai em frente.
A área de saúde pública, diferente da educação e transporte coletivo, dá e tira votos.
A mesma pesquisa Datafolha mostrou que 87% das pessoas acreditam que saúde deveria ser a maior preocupação de qualquer gestão pública.
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.
[email protected]
www.alfredomenezes