20/08/2015 11:46
No médio e longo prazos, a desvalorização do yuan pode ter efeitos positivos sobre a economia brasileira.
Especialistas em economia chinesa e na relação entre os dois países acreditam que a mudança do sistema cambial seja capaz de fortalecer as exportações de Pequim e, portanto, melhorar o desempenho da economia chinesa no médio e longo prazos.
Recuperação – Exportações maiores podem ajudar na recuperação para algo mais próximo dos 7% projetados para o crescimento chinês deste ano, avalia o economista Hsia Hua Sheng, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. Mais forte, a economia poderia recompor a demanda e melhorar também a importação de alguns produtos, favorecendo commodities como soja e minério de ferro, principais produtos da pauta brasileira para o parceiro.
Economia real – “Tem o impacto de curto prazo, mas o que realmente importa é a economia real chinesa”, comenta Sheng. “Se as exportações reagirem, vão ajudar a impulsionar o crescimento e estimular um pouco mais a economia mundial.” Para ele, a desvalorização pode prejudicar as exportações brasileiras para a China no primeiro momento incluindo o setor de petróleo , mas será benéfica tão logo Pequim recupere parte do dinamismo econômico.
Caso à parte – O Brasil é um caso à parte no cenário internacional, define Fabiana D’Atri, economista do Bradesco e integrante do Conselho Empresarial BrasilChina. Embora o barateamento de produtos chineses, causado pela desvalorização, afete a competitividade de quase todo o comércio global, no caso brasileiro os principais itens da pauta são pouco afetados, argumenta.
Soja – “A soja é um dos poucos produtos em que a China não tem autossuficiência e, portanto, não tem como deixar de importar. O governo não vai permitir que falte alimento”, diz Fabiana. “No caso do minério, o que enfraquece o preço hoje é a atividade, ou seja, a demanda, que depende de novo estímulo para retomar.” Além disso, afirma, a competitividade do real perante o yuan não será alterada facilmente, já que o Brasil desvalorizou a moeda em cerca de 55% nos últimos 12 meses.
Estratégia – O economista da FGV acredita que a mudança na sistemática de acompanhamento do câmbio pelo banco central chinês é parte da estratégia de converter o país em uma economia de mercado em um ano. O BC chinês decidiu reduzir a intervenção estatal na cotação da moeda e consultar o mercado. Desde quartafeira, o preço médio negociado no dia anterior passa a ser referência para a cotação do yuan.
Participação maior – “Agora há uma participação maior do mercado na formação da cotação da moeda”, afirma Sheng. “O BC chinês decidiu que vai ouvir o mercado sobre isso, e o mercado está dizendo que quer o yuan menos valorizado. Se ele vai continuar a atender a esses desejos, ainda não sabemos.” “Faltam evidências do que o governo pretende fazer”, diz Fabiana. “Esse é um processo de aprendizado. Eles podem deixar que o mercado participe da formação da cotação do moeda enquanto acharem necessário e em seguida fazer correções de rota na direção de seus reais objetivos.”
Leituras – A economista do Bradesco admite duas leituras para as alterações no regime cambial embora não acredite que ele vá derivar para a flutuação livre. A primeira, feita pelo mercado financeiro, é que a economia chinesa está fraca e o governo tomou medidas para tentar reativála e usar a moeda para barrar a importação e estimular a exportação. A segunda, mais estrutural, é que a mudança faz parte de uma liberalização da moeda que ocorreria mais cedo ou mais tarde, com o objetivo de a China entrar para o FMI.
Fundamento – As duas hipóteses têm fundamento e “timing” adequados, diz. “Faz sentido achar que é uma medida de estímulo, porque o governo chinês estaria desesperado com o desempenho da economia, com um PIB sugerido de 6%, bem aquém da meta de 7%”. A hipótese estrutural também tem lógica, porque em 5 de agosto o FMI divulgou relatório em que comenta o excessivo controle que o BC chinês exerce sobre a moeda, incabível para uma pretensa divisa internacional.
Pesquisas – Sheng conta que, por força de suas pesquisas sobre multinacionais brasileiras que exportam para a Ásia e grupos asiáticos que vendem para o Brasil, conversou na semana passada com alguns altos executivos de empresas chinesas que o ajudaram a formar seu diagnóstico. Em sua avaliação, ao enfraquecer a moeda a China se defende da desvalorização realizada por economias concorrentes, sobretudo outros asiáticos que estão investindo em indústrias de tecnologia baixa ou média, como têxteis, e que estão tomando espaço no mercado mundial, que já pertenceu a Pequim. “É melhor desvalorizar que frustrar esse crescimento, porque o impacto seria mundial”, afirma Sheng.
Fonte.: Informe OCB