Maggi e a desburocratização

08/09/2015 11:48

Senador assume uma missão espinhosa. Não é fácil deixar o país parecido com a Dinamarca ou a Noruega

O diagnóstico do senador Blairo Maggi, visto na imprensa esta semana sobre a burocracia brasileira está perfeito.

Basta um só número apresentado por ele para ver a gravidade de nossa doença: aqui gastamos 2.600 horas de trabalho para recolher os tributos, na Dinamarca, 130.

Ou seja, se lá uma empresa tem um funcionário para esse mister, aqui precisamos de 20.

O nosso paciente ( serviço público) está com 40 graus de febre, pressão arterial 20 por 12, coração a 40 batimentos por minuto e respiração ruidosa, antevendo uma sororoca.

Creio que o senador Maggi conhece o remédio certo para curar esse mal, só que dificilmente conseguirá aplicá-lo.

A experiência como governador aqui do Estado de Mato Grosso, por certo, lhe mostrou que na coisa pública os interesses corporativos ou individuais, se não satisfeitos, emperram qualquer iniciativa.

Entretanto, o doente (administração pública), cuja medição das funções vitais está exposto acima, não será medicado por uma só pessoa, mas por uma junta composta por quase 600 curandeiros ( deputados e senadores), cada um com suas idiossincrasias, interesses e malandragens.

É aqui que a coisa pega. São tantas as tendências, algumas nobres e muitas nefastas, que harmonizá-las em algo produtivo é quase impossível.

Muitos membros da junta médica metafórica são cardiologistas, outros pneumos, alguns homeopatas, vários psiquiatras e inúmeros curandeiros.

Têm ainda diversas tendências a serem satisfeitas: os que abominam os remédios, os adeptos na alimentação funcional, além dos que recomendam curas espirituais.

Drogas admitidas pelos geriatras são condenadas pelos pediatras e as receitas dos psiquiatras enfrentam a resistência dos nefrologistas.

Com tantas opiniões contrárias e deturpações da receita original que será apresentada (anteprojeto do senador Blairo) , ao fim, para conseguir o necessário consenso, será ministrado ao paciente caldo de galinha três vezes ao dia e, um comprimido de aspirina a cada 8 horas.

Quase inócuo, mas com o condão de manter as coisas como estão e continuar contemplando os interesses de todos os “cartórios” que governam este país.

Já tivemos no Brasil o Ministério de Desburocratização, criado em 1979 no governo militar.

O ocupante da pasta, Hélio Beltrão, conseguiu alguma coisa, mas a partir da redemocratização, isto é, quando a junta médica ( os tais 600 curandeiros) começou a opinar foi perdendo força até ser extinto.

Acho que o senador assumiu uma missão espinhosa. Não será fácil transformar este país em algo parecido ( ao menos parecido) com a Dinamarca ou Noruega. Há, isto sim, uma grande possibilidade de conseguir muito menos que o Hélio Beltrão.

que todos nós, oprimidos diariamente por essa formidável burocracia, temos o maior desejo de reduzi-la, entretanto a história recente não nos autoriza a acalentar grande expectativa.

É possível até acrescentarem, ao fim dos trabalhos, mais uma norma burocrática a ser seguida.

Não devemos menosprezar a imensa criatividade de nossos parlamentares.

Por RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá, [email protected] , bemtevimos.com.br

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