28/03/2016 13:16
Economistas tentam debater questões já resolvidas em 1977
Na semana passada, o senhor Luiz Belluzzo participou de um evento organizado pela Carta Capital no qual criticou pesadamente o ex-ministro Joaquim Levy. Segundo Belluzzo, é preciso “enganar o mercado, falar que vai fazer e não fazer”. Infelizmente, essa é mais uma tentativa de desviar o debate sobre política econômica para uma questão já resolvida: em 1977 (há quase quarenta anos!), dois economistas chamados Finn Kydland e Edward Prescott mostraram que a tentativa de “enganar” os agentes econômicos leva a um bem-estar social aquém do melhor possível.
Segundo os autores, caso um governo faça o melhor possível para a sociedade a cada momento, o resultado final será sub-ótimo: ao recalibrar a política econômica repetidamente, o governo sinaliza que poderá fazer outras alterações no futuro. Os agentes, que não são bobos, levarão em consideração essa possibilidade quando no processo de tomada de decisão. Isso gera um resultado pior do que se o governo tivesse, desde o início, se comprometido com um plano crível.
Essa situação acontece porque a política econômica é um jogo contra agentes racionais. Em linguagem cotidiana, isso significa que as pessoas pensam e não podem ser consistentemente enganadas – os indivíduos anteciparão que esse fato pode se repetir e ajustarão suas ações, o que levará ao resultado sub-ótimo de Kydland e Prescott. Por essa e outras contribuições, os dois economistas foram merecidamente agraciados com o Prêmio Nobel de economia em 2004.
Desse modo, os comentários do senhor Belluzzo geram um falso debate, resolvido décadas atrás. Além disso, tais sugestões são contraproducentes, pois apresentam soluções mágicas aos difíceis problemas que enfrentamos; politicamente, é mais cômodo seguir por essa análise simplória que adotar as medidas necessárias para corrigir as deficiências estruturais da nossa economia. O problema é que essa ladainha parte do princípio de que somos todos tolos.
Por André Sanchez Pacheco é mestrando em Economia pela New York University. É formado em Economia pela FEA-USP.