Opinião – A Direita não está preparada para assumir o Brasil

31/03/2016 11:22

”A Direita não está preparada para assumir o Brasil. Os liberais, como eu, são incapazes de entender que comida na mesa é mais importante que progresso”.

Em meio a uma nova era de redes sociais, opiniões políticas e visões sobre como organizar nossa sociedade estão cada vez mais disponíveis e interativas. É comum encontrarmos em páginas pessoais debates acalorados a respeito do tema.

Ainda não percebemos por completo, mas essa revolução midiática nos permitiu um choque de evolução cultural.

A “mídia comprada” que ambos os militantes (esquerda e direta) tanto reclamam hoje em dia corresponde a menos de 40% de tudo o que você lê a respeito do governo. Para a grande maioria, o grosso aparece no Facebook, no Twitter, nos chats do WhatsApp e em Blogs independentes, muitas vezes publicados apenas por amigos, que receberam de outros amigos.

A censura à mídia é simplesmente inviável. Não se consegue mais “abafar” uma notícia. Alguns segundos depois, estaremos todos recebendo compartilhamentos do fato ocorrido.

A informação do fato e a opinião instantânea de milhares de críticos “não oficiais” nos permitiu, mesmo que de forma desordenada, aumentar a consciência política no país.

Este, na minha opinião, é o grande e único caminho para acharmos um meio termo em comum, e evoluirmos como sociedade.

Vou falar aqui um pouco da minha percepção e reflexão a respeito de todos os debates que vi e travei durante essa revolução política que estamos vivendo.

Primeiramente, acho justo eu me apresentar, para que se entenda por completo o meu viés.

Eu sou liberal de carteirinha! Desde pequena ouvi de toda a família o quanto a Direita era o caminho para a evolução. Me formei em Economia por uma instituição de linhagem totalmente liberal. Participei de praticamente todas as manifestações contra este governo.

Posto isso, venho aqui categoricamente afirmar que, na minha opinião, a Direita não está pronta para assumir o Brasil! É por este motivo, imagino, que militantes da Esquerda são tão enfáticos em defender o atual governo, mesmo com toda a falcatrua escancarada.

O nosso país é ainda muito pobre. Talvez seja difícil compreender o que isto de fato representa para quem olha de cima da pirâmide social.

Vi gritarem, e por muitas vezes gritei orgulhosa, durante as manifestações: “Eu vim de graça!” Em oposição à atitude de alguns organizadores de passeatas pró-governo, que pagaram dinheiro aos supostos manifestante além de entregarem a famosa mortadela (como agora eles são chamados).

Mas algo mudou quando eu recebi em um dos chats que participo uma foto dos militantes distribuindo a comida para os manifestantes.

Queria criticar, e dizer o quão ridículo e parcial aquilo parecia, mas simplesmente não consegui diante da expressão daquelas pessoas, vendo o sanduíche com o brilho nos olhos de quem vê um pote de ouro.

Percebi naquela hora que não é difícil “vir de graça”, quando a gasolina e o estacionamento na Paulista representam 1/100 do seu salário. Não é difícil recusar um lanche, quando se come muito bem todos os dias.

E aí volto para o meu ponto: a Direita não tem maturidade para assumir o Brasil. Os liberais, como eu, são incapazes de entender que comida na mesa é mais importante que progresso.

Somos incapazes de priorizar o básico, porque geralmente já o temos. Queremos mais. Queremos desenvolvimento, queremos aeroportos, queremos portos modernos para importar nossos Iphones, queremos metrô e trem-bala. Queremos Educação de ponta e Saúde da mais alta qualidade. Queremos um setor público tecnológico, e queremos pesquisa e inovação urgente!!

Mas do que serve isto quando nos falta comida? Porque modernizar um aeroporto que funciona se eu não como há mais de 2 dias? Se eu não tenho onde tomar um banho e descansar?

Como podemos achar qualquer coisa uma prioridade se há centenas de brasileiros que não possuem nem mesmo o básico?

Não há como negar que a Esquerda percebeu e se sensibilizou com isto. Ela soube, neste ponto, priorizar o que há de mais importante: o mínimo. E por isto se manteve no poder por tanto tempo.

É preciso que a Direita entenda que a urgência é o mínimo e que este somente depois de conquistado pode dar espaço para o melhor.

Agora, preciso também fazer uma outra afirmação, tão importante quanto a primeira: A Esquerda não está preparada para assumir o Brasil!

O povo mais humilde não estava fortemente presente no protesto de março, o que não significa que eles apoiam o Governo. Isto é claro quando analisamos qualquer pesquisa de popularidade feita com representatividade social.

O povo não está do lado do governo. E desta forma, não existe uma “luta de classes” dos ricos contra os pobres. Existem os 90% de brasileiros descontentes.

Isso está claro em todos os debates de que já participei: a Esquerda não compreende o limite do poder do Estado e dos benefícios. A Esquerda quer sempre mais. É auxílio vitalício para o ente viúvo quando ele pode perfeitamente trabalhar, é farra de empregos públicos, é aumentar impostos dos ricos porque eles possuem mais e isso nos dá o direito, é investir bilhões em empresas estatais falidas só pelo orgulho de se ter uma estatal.

A Esquerda não entende que o mínimo é o mínimo necessário. Que se quisermos colocar o dedo ineficaz do governo em tudo, estamos condenados a sermos um país medíocre, assim como todos os países genuinamente socialistas se tornaram.

Como estamos percebendo diariamente por notícias a respeito da corrupção, o Estado não pode ser forte e poderoso, pois é governado por seres humanos, que por sua vez são altamente corrompíveis.

É preciso garantir o básico apenas, e deixar a pessoa livre e estimulada para correr atrás do resto com o seu trabalho. É de suma importância valorizar o trabalho.

Caso contrário, continuaremos a ter crises atrás de crises da dívida, por querermos gastar com absolutamente tudo. Teremos “milagres” sucedidos por “décadas perdidas” pelo resto de nossa história. E para cada ano de crescimento por expansão desenfreada de crédito, saberemos que vamos amargar o dobro de anos de recessão.

A Esquerda está certa de pressionar pelo básico, mas errada em querer confiscar o dinheiro de quem trabalhou duro a vida inteira para garantir paz para a família.

O básico é apenas o básico, e não se pode exigir por direito nada mais. Benefícios são por definição desiguais, e dão amplo espaço a subjetividade e segregação.

Nossa sociedade precisa caminhar unida neste momento tão delicado. Não podemos nos dar ao luxo de novas recessões. Temos que nos unir no caminho do meio, e começar o mais rápido possível a caminhar para o progresso.

A Direita tem que compreender que de nada adianta a modernidade só servir a alguns, e a Esquerda tem que compreender que o governo não é árvore de dinheiro e tudo deve obedecer a um custo/benefício.

Tenho esperanças de que a continuidade deste debate diário nas redes sociais vai nos levar a este ponto comum, e que conseguiremos nos livrar deste conceito medíocre de “luta de classes”.

O Brasil carece da nossa reflexão.

 

Por Marília Fontes é economista e analista da Empiricus Research