19/05/2016 16:56
Para analistas, economia do Brasil chegou ao fundo do poço e começa a voltar. Confiança vai se restabelecendo com a expectativa de melhorias no futuro.
A combinação de recessão prolongada com a expectativa de melhora com o novo governo já engrossa o coro de economistas que avaliam que a economia brasileira já chegou ao fundo do poço – e agora deve se estabilizar para então melhorar.
O Brasil está em recessão há pelo menos oito trimestres consecutivos, segundo o Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), da FGV (Fundação Getulio Vargas). O país entrou em recessão no segundo trimestre de 2014.
“Dados recentes mostram que a atividade econômica talvez tenha chegado ao fundo do poço no Brasil”, avalia Jan Dehn, chefe de pesquisa econômica da Ashmore, gestora de recursos britânica especializada em investimentos em mercados emergentes.
Itaú Unibanco, Santander e Banco Fibra também começam a vislumbrar sinais de estabilização da atividade, o que pode abrir caminho para uma recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) em 2017.
Essas avaliações são baseadas na constatação de que os índices de confiança da economia pararam de cair e se estabilizaram, ainda que em níveis muito baixos.
“Esse pode ser o primeiro elemento de um processo de recuperação”, disse Eduardo Vassimon, vice-presidente e diretor financeiro do Itaú Unibanco, em teleconferência com analistas no começo de maio. Ele também avaliou que uma melhora no ambiente político também poderia contribuir para melhorar a confiança na economia.
Estabilidade
A equipe de análise econômica do banco, que era liderada por Ilan Goldfajn (agora presidente do Banco Central) até o começo desta semana, aponta uma queda do PIB no primeiro e segundo trimestres deste ano ainda. Mas com os indicadores antecedentes apresentando melhora na margem, o banco espera uma relativa estabilidade a partir do terceiro trimestre.
Indicadores antecedentes são dados estatísticos atuais que sinalizam algo que deve acontecer no futuro. O Itaú cita como exemplo a redução nos estoques na indústria. Em abril, a proporção de empresas que reportaram estoques excessivos superou a de insuficientes em 9,6 pontos percentuais, o que representa uma queda ante março, a oitava consecutiva. Os economistas avaliam que os estoques devem continuar a diminuir nos próximos meses. Consequentemente, a confiança da indústria pode começar a subir de forma moderada.
O banco observa, no entanto, que a tendência da confiança nos demais setores da atividade econômica deve ser menos favorável, sobretudo os serviços ligados às famílias e ao comércio varejista.
“Indicadores antecedentes apontam que o fundo do poço já foi atingido”, avalia Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. Ele observa que os diversos indicadores de confiança relacionados ao “lado real da economia” – indústria, serviços, comércio e construção civil – têm mostrado nos últimos meses alguma estabilidade que parece indicar que os empresários destes setores percebem que o pior já passou.
A Ashmore avalia que a confiança dos empresários tem subido devido à melhoria das expectativas para o futuro. “O sentimento mais positivo é, sem dúvida, ligado ao processo de impeachment em curso, o que poderia marcar o fim de um período prolongado de governo ineficazes no Brasil”, afirma Dehn.
Novo governo
Citando a recente mudança de governo, os bancos têm melhorado suas previsões para o crescimento do PIB para 2017. O Itaú revisou sua projeção de crescimento de 0,3% para 1%, o Banco Fibra de 1% para 2,1%, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) de 0,8% para 1,5% e o Credit Suisse de retração de 0,5% para avanço de 1%.
Há uma relação entre rupturas políticas e o nível de atividade, observa o Santander. “Todas as últimas quatro rupturas políticas ocorreram em um ambiente de significativa contração do PIB. Mais do que isso: as rupturas políticas levaram a uma significativa melhora do nível de atividade nos anos subsequentes”, observaram os estrategistas da Santander Corretora Leonardo Milane e Ricardo Peretti, citando o golpe militar em 1964, a redemocratização em 1984, o impeachment de Collor em 1992 e a eleição de Lula em 2003.
Por Thais Folego jornalista e especialista no mercado