18/07/2016 14:14
Ainda com cenário incerto, investidores voltam, com cautela, a apostar no Brasil. Fundos avaliam retorno inicial de investimentos na casa dos US$ 50 bilhões
O mau humor em relação ao Brasil está sendo reavaliado e começam a surgir sinais de otimismo entre investidores dentro e fora do País. Fundos de investimentos já estudam, inclusive, a possibilidade de desembolsar por aqui, neste e no próximo ano, cerca de US$ 50 bilhões. O dinheiro seria canalizado não apenas para o mercado financeiro, mas também irrigaria investimentos de longo prazo em fusões e aquisições.
Economistas são unânimes em afirmar que ainda há muita incerteza, mas a mudança de rota na economia está reconstruindo a confiança. Pesa a favor, em particular, a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mais voltada às reformas para frear a dívida pública.
Vários indicadores demonstram que a visão em relação ao País começou a mudar para melhor. Os mais sensíveis a movimentos de curto prazo deram guinadas. Neste ano, o real já se valorizou em mais de 20% e a Bovespa acumula ganho de 28%. Se considerado o pior resultado do ano – 37.497 pontos, em 26 de janeiro – a alta do Ibovespa chega a 48%. “Estamos deixando para trás um momento de instabilidade política e econômica muito agudo”, diz Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
O presidente Michel Temer tem sido cauteloso ao comentar cenários. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, disse que ficou preocupado com os primeiros 20 dias de governo, mas que já percebe uma melhora e acredita numa mudança gradual nos próximos meses. “Eu até brinquei com o Meirelles: será possível esta coisa de 2% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)? Eu acho um pouco exagerado”, disse em relação à meta prevista pelo ministro para 2017.
O economista Affonso Celso Pastore concorda que o clima de fato mudou, mas recomenda cautela. “Há entusiasmo, mas ainda não temos euforia”, diz. A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara com apoio do governo melhora muito o cenário em direção a uma mudança mais sólida. “A eleição mostra que o Brasil agora tem uma chance concreta de aprovar as reformas e são elas que mudam definitivamente o cenário”, diz.
Pastore frisa que a virada de verdade só virá quando o governo aprovar medidas capazes de reduzir os gastos e, principalmente, frear o crescimento da dívida para, depois, colocá-la numa trajetória de queda. Hoje a dívida mantém uma perigosa tendência de alta. “A dívida é o indicador que mais preocupa os investidores”, diz.
A mudança na estrutura das contas públicas depende da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional que limita o crescimento dos gastos à inflação do ano anterior, a chamada PEC do Teto, bem como de reformas, em particular da Previdência, item que responde sozinho por quase 40% dos gastos. Como se tratam de mudanças polêmicas, que dependem de debate e aprovação no Congresso, o próprio governo aguarda o resultado do processo de impeachment para encaminhá-las à votação.
O mercado se mostra disposto a aguardar. “Ninguém esperava que, com Temer, o Brasil começaria a crescer 6% ou a dívida pública passaria a cair. É inocente pensar isso. Mas o novo governo indica uma mudança das políticas de 180 graus, o que tende a inverter a tendência dos principais fundamentos macroeconômicos”, diz Bruno Rovai, economista para o Brasil do banco britânico Barclays.
Virada. O mais animador é que há sinais de que o investimento de longo prazo para o setor produtivo deve seguir a mesma trajetória. Estudo intitulado International Business Report (IBR), da consultoria Grant Thornton, mostra que pela primeira vez desde janeiro de 2014 o empresário brasileiro voltou a apresentar otimismo para os próximos 12 meses. No ranking, obtido com exclusividade pelo Broadcast, notícias em tempo real do Grupo Estado, o Brasil avançou da 26º colocação para a 23°, de um total de 36 países. O indicador que mede a incerteza em relação a economia caiu de 70%, na última pesquisa há três meses, para 55% no último trimestre.
“Olhando para a América Latina, sobretudo Brasil, México e Argentina, há um viés mais otimista. O pessimismo que abateu essas economias está sendo revertido”, diz o sócio da Grant Thornton, Daniel Maranhão.
Outro indicador importante que mudou de comportamento foi o CDS (sigla para Credit Default Swap, instrumento que indica o risco de calote). Hoje é negociado abaixo de 290 pontos. No final de 2015, no auge da crise de desconfiança com o Brasil, bateu em 540 pontos. Entre os poucos países com papéis negociados acima de 500 pontos, estão Venezuela, Grécia e Ucrânia. Quanto mais pontos no CDS, maior é a percepção de risco em relação ao País.
Com a reversão dos indicadores, desponta a intenção concreta de colocar dinheiro no Brasil. Um levantamento do BTG Pactual mostra que os fundos globais institucionais (que investem em mercado de capitais) podem alocar de US$ 30 bilhões a US$ 35 bilhões no Brasil, retomando aos patamares de 2014, antes das eleições.
Os fundos de private equity, que compram fatias em empresas, têm R$ 39 bilhões voltados para o País nos próximos meses, segundo estudo da KPMG e da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital.
O mundo também está ajudando o Brasil. O mercado externo vive um período de juros baixo, condição que deve ser reforçada pela saída do Reino Unido da União Europeia. O Bank of America Merrill Lynch calcula que há US$ 13 trilhões no mundo investidos em títulos de dívida com retorno negativo. “Acreditamos que esse ambiente de retorno baixo incentiva a busca por opções de alto retorno”, citam os analistas do Morgan Stanley, ao comentar as perspectivas dos ativos brasileiros.
Da Redação com informações da Agência Estado