27/07/2016 14:48
Veja fatores que mostram que o governo está mais otimista que o mercado. Mesmo com economia melhorando, Meirelles e BC projetam cenário ainda mais positivo
Confiança foi a primeira palavra que o presidente interino Michel Temer escolheu dizer quando assumiu o cargo com o afastamento de Dilma Rousseff, em 12 de maio. O país estava, e ainda está, em meio a uma grave recessão e o governo tem dito que recuperar a confiança na economia é uma de suas prioridades.
Principal nome da equipe econômica do governo interino, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse, depois de um mês e meio no cargo, que a “confiança já está crescendo”. De fato, as previsões compiladas no Relatório Focus, principal termômetro do otimismo do mercado no país, têm melhorado ao longo das últimas semanas.
Só que o governo acha que a confiança vai aumentar ainda mais no futuro próximo. Nos últimos dias, integrantes da gestão Temer deram sinais de que as projeções sobre dois dos principais índices da economia nacional, crescimento e inflação, são ainda mais otimistas.
Crescimento
A variação do Produto Interno Bruto (PIB), um dos dados mais importantes de uma economia, é usado para definir, por exemplo, se um país está em recessão. E o Brasil está com retração há cerca de dois anos. São oito trimestres de queda no PIB, soma de tudo que o país produz. As previsões do mercado sinalizam o diagnóstico está próximo do fundo do poço e projeta uma recuperação para os próximos trimestres. A volta do crescimento viria definitivamente em 2017.
CENÁRIO MELHOR SEGUNDO O MERCADO
O ministro da Fazenda, porém, acredita que as projeções atuais ainda vão melhorar e que o crescimento “pode surpreender”.
“[O crescimento] Pode surpreender positivamente. Já existe um viés de crescimento de previsões. Alguns analistas já falam em torno de 2%, mas claramente há um viés, que vai se consolidar, de um crescimento superior ao consenso. Já esteve em 0,5%, está em 1,2% e poderá, na minha opinião, crescer.”
Inflação
O outro sinal de otimismo do governo veio na ata que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, agora sob o comando de Illan Goldfajn, escolhido por Temer e Meirelles. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa básica de juros em 14,25% depois de dois dias de reunião.
A ata, com conclusões mais detalhadas dos membros do comitê, só é divulgada uma semana depois. Nela, os diretores do Banco Central dizem ver pressões inflacionárias menores das que o que o mercado projeta no momento. As diferenças entre as projeções está, principalmente, nas projeções para o câmbio e a Selic (taxa básica de juros do país), que impactam diretamente o aumento de preços.
O Banco Central projeta a Selic em 14,25% no final de 2017 e o dólar a R$ 3,25. Já o mercado acha que os juros estarão mais baixos (11%) e o dólar mais caro (R$ 3,50).
Caso o cenário no fim de 2017 seja o projetado pelo mercado, e não o previsto pelo BC, o Copom admite que será difícil que a inflação chegue à meta de 4,5% ao ano já em 2017. Aí a projeção fica mais parecida com a do mercado: 5,3% ao ano de inflação.
Otimismo não foi suficiente com Dilma
Previsões otimistas por parte do governo foram comuns durante o governo Dilma Rousseff. Principalmente no primeiro mandato da presidente afastada, era comum que as projeções da equipe econômica fossem consideradas otimistas demais pelo mercado. No final, muitas delas não se confirmaram.
Quando Meirelles assumiu a Fazenda, uma de suas promessas foi a de ser transparente com números do governo e realista com projeções. Somente o tempo vai dizer se os primeiros sinais de otimismo com a economia se justificam.
Por José Roberto Castro no Jornal Nexo