28/07/2016 11:09
”O mundo aguarda que o eleitorado americano entenda essa realidade e não premie àqueles que usam técnicas míticas para sensibilizar as massas e atingir o poder.”
Na política, os extremos mesmo se opondo, na práxis terminam se encontrando e usando métodos idênticos.
O sectarismo e o autoritarismo são comuns a essas posições extremadas, que no passado se chamavam direita e esquerda.
Essa dicotomia desapareceu, desde o fim da guerra fria.
Tornou-se démodée.
A temática sócio-política moderna gira em torno de doutrinas e não ideologias.
Note-se, por exemplo, o atual quadro eleitoral norte-americano.
Não há como historicamente ser negada a vocação democrática dos Estados Unidos, comprometida com princípios e valores de liberdade e igualdade, mesmo ocorrendo distorções eventuais, pelo uso indiscriminado de armas, preconceitos raciais e apoio a regimes totalitários no mundo.
Numa hora em que é notória a instabilidade global, surge exatamente nos Estados Unidos um aspirante à presidência da República como Donald Trump, revelando sinais de extremismo, tão nocivo quanto os de direita e esquerda, do passado.
Ele poderia até ser qualificado como o típico Bin Laden, da direita.
Na Convenção Democrata o ex-republicano e ex-prefeito da de Nova York Michael Bloomberg, ao apoiar Hillary, declarou que Trump usa palavras incendiárias, recheadas de demagogia e hipocrisia, como instrumento terrorista para atrair adeptos, em nome da liberdade e reconstrução nacional.
Note-se que Bloomberg é tão milionário quanto Trump e condena a promessa do republicano em governar os Estados Unidos, como se governa uma empresa.
A propósito, cabe comentar que em horas de crises econômicas, fala-se muito em reduzir o tamanho do Estado e adotar o modelo da empresa privada na gestão pública.
Nem tanto ao mar, nem tanto ao peixe.
Tem razão o empresário Bloomberg: o Estado não pode ser eliminado, para a empresa substituí-lo.
Ambos são instrumentos coletivos essenciais, que têm funções sociais absolutamente diferentes e precisam sobreviver, através do planejamento.
A empresa privada busca a eficiência, reduzir custos e persegue a qualidade dos seus produtos, com o objetivo de lucros financeiros.
O Estado deve igualmente buscar a eficiência, reduzir custos e garantir a qualidade dos seus serviços, com o objetivo de lucros sociais.
Ambos, portanto, desejam o lucro; apenas com aplicações diferenciadas dos resultados econômicos alcançados.
Um não prospera, sem o outro.
O estado quando adota intervenções e regulamentações abusivas na economia, conspira contra o empreendedorismo e a liberdade privada.
Da mesma forma, a empresa privada, quando somente enxerga os seus interesses, ou de grupos e tenta, em nome da eficiência, eliminar (ou reduzir drasticamente) o papel do estado, conspira contra as necessidades coletivas daqueles que necessitam de oportunidades e assistência para o crescimento individual, sem que isso signifique paternalismo nocivo, ou privilégios.
Uma rua de mão dupla, com respeito recíproco entre Estado e Empresas privadas estáveis, é o que se aspira alcançar com as mudanças na ordem econômica, política e social global.
O mundo aguarda que o eleitorado americano entenda essa realidade e não premie àqueles que usam técnicas míticas para sensibilizar as massas e atingir o poder.
É bom recordar que Adolf Hitler e Joseph Goebbels incendiaram corações, com essa falsa estratégia e deu no que deu.
Deus proteja a América!
Por Ney Lopes, jornalista, advogado militante, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano [email protected] – www.blogdoneylopes.com.br