26/08/2016 17:01
Militares sustentam os ‘assinalados serviços’ à instituição como cabo no Tiro de Guerra. Soando como caráter político, ainda assim, juiz é merecedor de tamanha deferência
O Exército Brasileiro conferiu na quinta-feira (26) a “Medalha do Pacificador” ao juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato na Justiça Federal no Paraná. A condecoração foi entregue em cerimônia oficial, no Quartel-gerenal do Exército, em Brasília, pelo comandante da Força, Eduardo Villas Bôas, e pelo ministro da Defesa, Raul Jugmann.
A honraria foi criada em 1953, “como evocação às homenagens prestadas a Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias”, que é patrono do Exército Brasileiro. Junto com Moro, outras 355 pessoas receberam a medalha na mesma cerimônia.
Quem pode receber a medalha
A “Medalha do Pacificador” começou a ser entregue nos anos 1950 originalmente a:
“militares ou civis brasileiros ou estrangeiros que tivessem prestado assinalados serviços ao Exército”
Em 1962, o conceito foi ampliado, com a entrega de uma variável da condecoração chamada “Medalha do Pacificador com Palma” a:
“militares brasileiros que, em tempos de paz, se houvessem distinguido por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura, com risco da própria vida”
Em 2002, o conceito foi ampliado novamente, dessa vez incluindo a variável “Insígnia de Bandeira” da “Medalha do Pacificador” para instituições, em vez de pessoas. E, em 2006, foi criada uma variável apenas para mulheres.
A reportagem perguntou ao Exército Brasileiro por que Moro recebeu a medalha. A resposta é que “o magistrado foi cabo no Tiro de Guerra da cidade de Maringá-PR, mantendo, a partir de então, os laços de amizade e cooperação com o Exército Brasileiro”.
O significado político do gesto
O simbolismo da medalha não está restrito ao fato objetivo de que Moro, um dia, foi cabo do Exército no interior do Paraná. O gesto é, politicamente, um sinal de aprovação ao trabalho que o magistrado faz à frente da Lava Jato, em Curitiba.
“O juiz Sergio Moro tem relevantes serviços prestados ao Brasil, à democracia e, obviamente, em decorrência disso, às Forças Armadas, e ao Exército” – Raul Jungman, ministro da Defesa
A medalha foi entregue a Moro na semana em que o ministro do Supremo Gilmar Mendes chamou de “cretino absoluto” quem defende o uso de provas ilícitas em investigações, desde que elas tenham sido colhidas de boa fé.
A proposta consta num pacote de medidas proposto pelo Ministério Público contra a corrupção, com apoio de Moro. Para Mendes, o documento é “um delírio” de quem “não conhece nada do sistema”.
Moro também foi questionado no Supremo por ter divulgado gravações de conversas telefônicas que envolviam a presidente afastada Dilma Rousseff. Pelo fato de a petista ter foro privilegiado, Moro, que é juiz de primeira instância, não poderia ter gravado a presidente. Ele argumentou, entretanto, que o objeto da gravação não era Dilma, mas seus interlocutores e, por isso, as provas não deveriam ser descartadas.
Para Gilmar Mendes, a Lava Jato comete excessos e é preciso por um freio. Essa última crítica foi motivada pela suspeita de que investigadores vêm vazando documentos para a imprensa com a intenção de causar danos políticos e de confrontar posições tomadas por ministros do Supremo.
Na cerimônia de condecoração, Moro foi perguntado sobre a fala de Mendes. “Não creio que tenha sido alvo de ataques dessa forma. Mas não tenho comentários sobe isso”, respondeu enquanto, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, tirava retratos com dezenas de “fãs” civis e militares presentes na cerimônia.
Milhares de pessoas já receberam a “Medalha do Pacificador” até hoje, entre elas os ministros do Supremo Luiz Fux e Rosa Weber, além de uma longa lista de deputados, senadores, ministros, desembargadores, prefeitos e militares.
Por João Paulo Charleaux