Opinião – Lula x Bolsonaro: Cenário possível em 2018?

28/03/2017 02:48

”Há de se ressaltar, porém, que ambas candidaturas podem esbarrar e morrerem nas mãos da Justiça. Uma vez que ambos candidatos enfrentam processos, embora por razões distintas.”

Muitos leitores dirão que ainda falta muito tempo para as presidenciais de 2018. Concordo. Mas minha tarefa aqui não é adivinhar o que acontecerá em dois anos. E sim apresentar um cenário possível para lá, com os dados que temos hoje.

E os dados de recente pesquisa de intenção de voto apontam para Lula em primeiro, Bolsonaro em segundo e em terceiro Alckmin.

As candidaturas de Lula e Bolsonaro já eram previsíveis faz algum tempo.

O que é interessante notar é a liderança de ambos em detrimento de candidatos menos polêmicos como o governador de São Paulo, por exemplo.

Tal polarização reflete uma divisão na sociedade, mostrada entre outras pelo confronto de petistas versus não-petistas, com tudo que isto significa.

Seria este embate político um retorno da velha e boa política? Onde predomina o embate ideológico caracterizado pela não menos tradicional batalha entre esquerda e direita. Ou ainda uma luta de biografias, de mitos e de backgrounds distintos e antagônicos. Tudo menos um duelo entre partidos, pela ausência de um dos mais fortes que, até o momento, sustente a candidatura do militar.

Por outro lado, ocorrerá o antagonismo entre dois políticos de bandeiras diferentes. Muito diferentes. Pode ser também um teste para o PT aquilatar seu grau de sustentação na sociedade, pós Lava-Jato. Ou ainda o grau de aceitação das teses conservadoras defendidas pelo candidato anti-PT, com forte apelo nacionalista e penetração no eleitorado jovem, defendendo uma ideologia populista e conservadora.

Ademais, não há como desprezar a influência internacional, a ser medida pelo fenômeno Trump e pelo que nos reserva a eleição presidencial em França, por exemplo. Vamos saber até que ponto a onda conservadora de direita tocará  a política por aqui.

Tempos interessantes estão por vir. Mais ainda se considerarmos que um candidato tido como exótico vem se credenciando para uma disputa com um dos maiores líderes populares do Brasil. Além de político experimentado e ex-presidente da República.

Bolsonaro despreza os canais tradicionais de comunicação com as massas e procura estabelecer uma relação direta. Fenômeno comum, aliás, também praticado por Lula e certos candidatos em outros países. Essa tática procura explorar o cansaço do povo com as elites políticas tradicionais, com o establishment e com a mídia de grande porte.

Há de se ressaltar, porém, que ambas candidaturas podem esbarrar e morrerem nas mãos da Justiça. Uma vez que ambos candidatos enfrentam processos, embora por razões distintas. Caso isto venha ocorrer perderá a política.

 

 

Por João Paulo Peixoto é cientista político da Universidade de Brasília
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