23/05/2017 19:07
”É mais prudente esperar as eleições de 2018 para que o povo escolha democraticamente o seu governante para impedir, assim, que esse Congresso carcomido o escolha por eleição indireta.”
Cascais, Portugal – Ainda soam muito estranho as vantagens oferecidas pelo Ministério Público aos irmãos Batista, da JBS. Aproveitadores confessos dos empréstimos do BNDES (embolsaram mais de 8 bilhões de reais dos brasileiros para comprar empresas no exterior), delataram presidentes envolvidos em trapaças, um monte de político, e de uma hora para outra desapareceram do Brasil a bordo de um avião particular. Os irmãos bilionários cometeram todo tipo de crime, mas, orientados por seus advogados, decidiram apresentar-se ao Ministério Público e abrir o jogo, o mais escandaloso de todos os outros da Lava Jato.
Sou um daqueles brasileiros que se sentiram lesados pelos irmãos Batista e pelo Ministério Público. Vi, com surpresa, desaparecerem do Brasil dois empresários que durante mais de dez anos espoliaram o patrimônio público com a colaboração e a cumplicidade do PT e de políticos inescrupulosos de outros partidos. Esses senhores escancararam as portas dos bancos estatais e dos fundos de pensão para alimentar a ambição dos Batista que montaram um império no exterior com o dinheiro do trabalhador brasileiro. Ao deixarem o Brasil, ficamos, todos nós, com a sensação de que fomos burlados com o nosso próprio dinheiro por dois empresários expertos que botaram no bolso literalmente toda a elite política do país com as suas maracutaias. E, ao saírem, atearam fogo no circo.
Os depoimentos dos irmãos ao Ministério Público ainda podem ser revistos. Os dois devem esclarecer detalhes que estão sendo questionados hoje por peritos e agentes da Polícia Federal que não tiveram acesso às gravações, um erro grave que o MP não sabe explicar. Evidentemente que esses pormenores não devem alterar muito as investigações nem isentar de culpa os políticos envolvidos na caixinha dos bilionários. A revelação da dupla “caipira” só mostra como o processo político do país está degenerado, afetado pela corrupção. Deixa claro também a relação promiscua entre os poderes constituídos e os empresários cooptados por políticos para se tornarem sócio do dinheiro público nas campanhas eleitorais.
Já se falou aqui da responsabilidade de Michel Temer, das suas péssimas companhias (oito dos seus ministros estão envolvidos na Lava Jato) e da sua cumplicidade com empresários que alimentam o seu partido, o PMDB. Desde que assumiu não consegue se livrar dos escândalos. Eles começaram dentro de casa quando seu assessor especial José Yunes denunciou o ministro chefe do Gabinete Civil, Eliseu Padilha, acusando-o de receber propinas por meio do seu escritório de advocacia em São Paulo.
De lá pra cá, oito dos seus ministros foram denunciados na Lava Jato e o governo continuou paralisado, inerte às denúncias. Agora, joga-se um petardo no colo dele. Joesley grava Temer e entrega a gravação ao Ministério Público. De nada adianta ao presidente tentar desqualificar a gravação ou denunciar a sua adulteração. Se ela está editada cabe a Justiça penalizar os irmãos e quebrar o acordo da delação premiada. O que não se admite, contudo, é a intimidade revelada entre Temer e o empresário envolvido nas maracutaias.
Temer abriu a guarda ao receber Joesley no palácio. Mas pelas regalias dispensadas ao delator deixou claro a intimidade que tinha com ele. Pediu que a segurança negligenciasse ao não pedir a identificação do visitante. Deu-lhe passe livre para ser gravado porque Joesley tinha acesso fácil à sua casa. Tanto é assim que tratou com ele de vários assuntos. O mais sensível deles, a situação de Eduardo Cunha, réu condenado a 15 anos por corrupção. Nada justifica que o presidente mandasse abrir os portões do palácio para receber um empresário que já se sabia colaborar do Ministério Público por crimes cometidos.
A renúncia do Temer não iria consertar os desacertos do país tão traumatizado pelas várias organizações criminosas partidárias. O receio é que a sua saída traga de volta outros criminosos agora mais sofisticados para dilapidarem o patrimônio do Brasil. É mais prudente esperar as eleições de 2018 para que o povo escolha democraticamente o seu governante para impedir, assim, que esse Congresso carcomido o escolha por eleição indireta.
Por Jorge Oliveira