28/03/2018 13:17
”Todavia, seja quem for, não poderá continuar a repetição do equívoco de usar dois pesos e duas medidas, quando se trata de atribuir responsabilidades, acerca da corrupção endêmica que assolou nação.”
Observando a realidade nacional colocam-se algumas análises, que levam a certas constatações.
Seriam os políticos corrompidos, os únicos responsáveis pela devastação moral, que atingiu o país?
Ou, os empresários corruptores têm parcela idêntica de responsabilidade, nesse contexto macabro?
Com certeza será difícil estabelecer o grau de culpa, maior ou menor, de uns e de outros.
Mas, uma coisa é certa: até hoje prevaleceram dois pesos e duas medidas.
Acerca da classe política, desnecessários maiores comentários.
O massacre é generalizado, repetitivo e apoiado por pessoas e entidades, que se aproveitam da oportunidade para se manifestarem contra o poder regulatório do estado e a tributação, usados como meios de fiscalização e financiamento das funções estatais, definidas na Constituição.
Não há separação do joio do trigo.
Até em certos momentos transpira a desconfiança de que haja, subliminarmente, apelo à adoção de “regime”, à margem da democracia.
A pregação extremada do estado mínimo e o desejo radical da predominância do mercado, excluem, aparentemente, o poder regulador dos governos e se caracterizam como tentativas de expor a sociedade ao controle único da lei da oferta e da procura.
Sai-se de um extremo para outro, igualmente maléfico.
Em relação à responsabilidade pelo caos nacional, não há como hesitar na afirmação de que uma parte (não a totalidade) da empresa privada correu “solta” e usufruiu da ilegalidade e das benesses – mesmo sendo aparentemente legais – traduzidas em excessos de subsídios, juros diferenciados, desonerações, isenções e notório tráfico de influencia nos governos.
Certamente, na história republicana, nunca houve governos em que os financiamentos e “ajudas” à empresa privada, de parte da União, tenham sido tão dadivosas, amplas e abundantes, quanto nos períodos de Lula e Dilma.
As desonerações da previdência social, por exemplo, que já ultrapassaram 500 bilhões de reais, eram concedidas por decreto do executivo, sem audiência prévia do Congresso.
Para os “amigos” tudo; para os inimigos a lei.
E quais foram os “amigos”?
Alguma delação já os identificou, tornando público?
O governo ao debater a reforma da previdência, omitiu essa deformação como uma das causas do déficit da previdência.
Achou mais conveniente aceitar a acusações genéricas contra o serviço público, elegendo-o inimigo público número um.
Por acaso, houve no país movimento privado de denuncias contra as exigências de pagamento de propina, tráfico de influencias e assemelhados, da mesma forma como fazem contra os nocivos super-salários?
Quantas vezes entidades de classe protestaram contra más aplicações de dinheiro do BNDES, que beneficiavam “privilegiados” (como a JBS, Odebrecht, por exemplo)?
O BNDES e órgãos estatais de crédito já divulgaram a listagem de quem se beneficiou com financiamentos e vantagens, até com juros negativos, subsídios e incentivos, que nunca geraram um só emprego?
Silêncio geral.
E conivente.
Prevaleceu o sentimento de corporativismo, cooptação e alianças, o que é tão violentamente combatido, quando flagrado na classe política.
O resultado dessa catástrofe é que no momento, o Brasil enfrenta a maior crise política da sua história.
Não se sabe quem governará até as eleições diretas, ou, indiretas próximas.
Todavia, seja quem for, não poderá continuar a repetição do equívoco de usar dois pesos e duas medidas, quando se trata de atribuir responsabilidades, acerca da corrupção endêmica que assolou nação.
Por Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano; Procurador federal – [email protected] r – blogdoneylopes.com.br