20/03/2018 13:41
”A projeção do mercado financeiro para o PIB de 2017, por sua vez, é de 0,49%, o que representaria o primeiro resultado anual positivo após três anos seguidos de retração.”
Em meio ao agravamento da crise política e diante do momento econômico ainda delicado por que passa o país, é necessário que todos tenhamos serenidade para identificar o que há de bom em curso e aquilo que devemos preservar para que o Brasil continue sua caminhada e supere a recessão. É evidente que a situação não é fácil, o desemprego atinge um grande contingente de brasileiros – cerca de 14 milhões de pessoas – e, por outro lado, as investigações da Operação Lava Jato avançam, agora com a participação mais ativa do Supremo Tribunal Federal, e desnudam a face obscura da corrupção que infelicita a nação e eclodiu como nunca durante os governos de Lula e Dilma Rousseff.
É inegável que o recrudescimento da forte turbulência política vivenciada nas últimas semanas causou um impacto negativo e um forte abalo na economia, inclusive com a figura do presidente da República levada ao centro das denúncias feitas em delações à Justiça, mas há sinais concretos de que o governo de transição vem cumprindo o seu papel de reconduzir o país aos trilhos e recuperar a credibilidade perdida nos últimos 13 anos. Não há como não reconhecer a competência e a seriedade da equipe econômica, assim como os sinais auspiciosos de que o trabalho desenvolvido até aqui está no rumo certo.
O dado mais significativo é o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores, segundo o IBGE. Trata-se do primeiro resultado positivo desde o quarto trimestre de 2014, interrompendo uma série de oito períodos consecutivos de queda, o que definitivamente não é pouca coisa e merece ser comemorado.
Apesar do elevado índice de desemprego, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE na última quarta-feira (31), registrou um aumento de 1,8% no emprego na indústria em relação ao trimestre encerrado em janeiro deste ano. Esse setor amargava perdas consecutivas em seu contingente de empregados nos últimos dois anos e, pela primeira vez no período, experimenta um resultado positivo – são mais de 11,5 milhões de trabalhadores na ativa.
Outro dado relevante divulgado nesta semana é o Índice de Confiança de Serviços (ICS), que integra a Sondagem do Setor de Serviços apresentada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV). De acordo com o levantamento, a taxa subiu 0,5 ponto em maio em relação a abril e alcançou 84,7 pontos em uma escala de 0 a 200. Em comparação com o mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 13,9 pontos.
As boas perspectivas do Brasil na área econômica também estão cristalizadas no relatório do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central no início da semana, que estima uma inflação de 3,95% – índice que está abaixo do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5%. Desde 2009, em função da irresponsabilidade na condução da política econômica sob os governos lulopetistas, o país não consegue atingir a meta central de inflação. A projeção do mercado financeiro para o PIB de 2017, por sua vez, é de 0,49%, o que representaria o primeiro resultado anual positivo após três anos seguidos de retração.
Esse conjunto de dados, especialmente aqueles que se referem à baixa inflação, abrem espaço para uma progressiva redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, como vem ocorrendo sistematicamente. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na quarta-feira (31), houve uma decisão unânime de baixar os juros em mais um ponto percentual, de 11,25% para 10,25% ao ano. É inegável que ainda se trata de um índice muito alto se comparado a outros países, mas a Selic atingiu o seu menor nível desde novembro de 2013 e vem percorrendo uma trajetória segura de redução (é a sexta queda consecutiva).
Todas essas boas notícias, sobretudo envolvendo a economia brasileira, devem ser ressaltadas e comemoradas por aqueles que têm compromisso com o Brasil e esperança de que derrotaremos a recessão. Muito pior seria se, além da grave crise política, não tivéssemos nenhum sinal de recuperação no horizonte e o país estivesse completamente paralisado. Não é o caso. Neste momento conturbado, nossa maior preocupação deve ser a aprovação das reformas fundamentais em tramitação no Congresso Nacional e de uma agenda econômica que permita ao país se reerguer e construir um futuro mais digno para os seus cidadãos, com emprego, renda e desenvolvimento. Os bons ventos da transição nos ajudarão a atravessar a tempestade e superá-la antes mesmo de 2018.
Por Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS