Opinião – A ditadura dos bancos

17/03/2018 09:21

”Ora, porque juros razoáveis não são adotados para que os empreendedores ajam com um mínimo de risco ? É com eles que o Brasil vai certamente encontrar seu grande destino.”

Ela não é melhor que as outras (ditaduras), nem a civil nem a militar, talvez a mais cruel de todas, porque ninguém que é alcançado por ela cessa de sofrer seus golpes e seus rigores. Quem se vincula obrigacionalmente a um banco é (merece conforto) um torturado. A tortura começa com um sorriso do torturado, que festeja o crédito em sua conta. A partir daí, inicia seu calvário, sem o perceber, mas, à medida que vão se vencendo as prestações, já absurda e imoralmente engordadas com juros calculadamente usurários, o infeliz devedor já está no círculo de fogo, em que assiste os preços sempre com números novos e as obrigações no sentido de reduzir seu já pequeno espaço nas manobras de sobrevivência.

Seja na fartura, seja na escassez, os bancos jamais perdem. Os jogadores em bolsa sabem disto.

Porém, o status que os bancos hoje assumiram (com a conivência ou mesmo cumplicidade do governo), é algo de estarrecer. O poder dos bancos é de tal ordem que estas entidades anunciam escancaradamente juros de até 900 % ao ano. Isto é um espanto, fenômeno mesmo surreal, enquanto amargamos uma inflação mentirosa, a todo dia revendedores reprecificando mercadorias de primeira necessidade.

O pior desta ocorrência danosa ao povo e ao nosso crescimento, visto que com taxas desta expressão matemática não surgem empreendedores estimulados a desafiar a economia, os clientes ou tomadores não tem com quem se encontrar, porque os bancos perderam a cara. No Brasil do “ame-o ou deixe-o”, época de incontestáveis avanços na infraestrutura do país, os mineiros se lembram bem  de que aquele que desejava iniciar um comércio ou atividade produtiva sabia a quem se dirigir, e era uma aliança de pulso e coração do interlocutor e do banqueiro com um só propósito. Pulso tranquilo e coração aberto quando, em Minas, se dirigiam ao Banco Nacional para falar com o Dr. Magalhães Pinto, sempre aberto ao diálogo, ou ao Banco Mineiro do Oeste para visitar o João do Nascimento Pires (de tão bom trato que se foi com a alcunha carinhosa de Joãzinho mamãe) ou, ainda, quem preferisse o Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais, onde se encontrava com seu afável fundador Ruy de Castro Magalhães. Hoje, nada nem parecido. Os interesses daquela era convergiam patrioticamente, esse o segredo. Coube a Magalhães Pinto inaugurar no mercado financeiro o crédito pessoal, que revolucionou o meio bancário, mais uma certeza de que aqueles financistas propagavam progressos e mudanças acreditando no homem. Hoje, gerente de agência não é mais que preposto da instituição, e está ali, apenas, para garantir ordem nos trabalhos e informar o que manda o sistema. É assim, o sistema é o gerentão, e é ele que avalia, nega ou autoriza uma transação, por mínima que seja. O gerentão ocupou, ainda não a cadeira, mas o comando geral da instituição. A informática chegou para que os bancos mais redução de seus custos consiga obter, e menos gente possa empregar, e não medir constrangimentos ao cobrar maxi-taxas pelas operações bancárias e interbancárias. E não há para quem apelar. Se o gerentão negou ou debitou vai ficar por isto mesmo.

Sabe-se que a taxa de juros é uma engenharia complexa, concebida a partir, principalmente, de circunstâncias externas, especialmente as ocorridas nos Estados Unidos. Contudo, não há razão técnica ou lógica para que alcancem as alturas, como ora praticadas. Este processo é de lesa-pátria, atrasa nosso desenvolvimento e empobrece pessoas físicas e jurídicas. Ora, porque juros razoáveis não são adotados para que os empreendedores ajam com um mínimo de risco ? É com eles que o Brasil vai certamente encontrar seu grande destino.

 

 

Por José Maria Couto Moreira é advogado.

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