02/08/2017 16:16
”Eis o que quero fazer a partir de agora: conservar as boas tradições sedimentadas pela humanidade ao longo dos tempos, sem cair no canto da sereia dos pseudos-revoltados e ressentidos…”
Tornei-me conservador político após uma longa e demorada análise dos rumos da sociedade, no passado e no presente, e constatar que o mundo e as pessoas são reais, desiguais e diferentes.
As chamadas esquerdas abominam o mundo presente, criando um mundo fictício e seres humanos perfeitos, e raciocinam a partir dessa ideia, com premissas e conclusões falsas, substituindo o Céu dos cristãos e muçulmanos pelo paraíso na terra.
Os ideais de liberdade e igualdade são construídos sobre um dilema: um diminui o outro, porque, sendo os indivíduos portadores de capacidades diferentes, os mais capazes, tendo ampla liberdade, se tornarão mais fortes ainda ante os menos capacitados. Forçando a igualdade, tolhe-se a liberdade dos mais habilitados. O cientista e o idiota teriam de ombrear-se na mesma linha de produção.
As experiências passadas demonstram que forçar a natureza dos indivíduos resulta em fome, morte e destruição, como ocorreu nos países da chamada Cortina de Ferro, Cuba e Camboja. A China, que tem uma economia capitalista e um regime político comunista, só continua de pé porque suprimiu a liberdade da população.
A esquerda moderna, sem alternativas às instituições edificadas pelo mundo democrático, pulverizou a luta pela derrocada do sistema em reivindicações de grupos diversos, centrando em diversidade e multiculturalismo, substituindo o justo respeito pelo diferente à imposição de caprichos minoritários à vontade da maioria.
O objetivo, porém, é o mesmo de antes: destruir o velho mundo, começando por desmantelar o núcleo mais resistente da sociedade: a família.
A destruição da família, a partir da defesa da liberdade sexual sem limites e da fabricação de crianças aos deus-dará, das produções independentes e dos filhos sem pai, tem resultado em negligência e abandono infantis, em transtornos de personalidade e descontrole da criminalidade, levando a sociedade a despender recursos extraordinários com centros de internação juvenis e cadeias.
O domínio da cultura e das escolas pelas chamadas idéias progressistas resultou na formação de legiões de pessoas sem freios morais, rebeldes sem causa e incivilizadas, tendentes a abominar qualquer noção de autoridade: dos pais, professores e poderes constituídos.
Essas pessoas, ponerologizadas pela hegemonia cultural de Gramsci, perderam o medo, a vergonha e a culpa. Assim, tudo vale e qualquer coisa serve.
Para a esquerda, os fins justificam os meios. Quem defender a causa, mesmo que seja canalha, será do bem. Não se reconhece virtudes individuais. Então, quem for contra a causa, mesmo que seja benfeitor da comunidade, bom pai de família e amigo fraterno, será do mal.
A esquerda manifesta um amor abstrato pela humanidade, mas é insensível aos dramas individuais. Os militantes são anti-solidários. Abominam a caridade. São incapazes de socorrer uma pessoa próxima em dificuldade. Zombam de quem dá esmolas. Entendem que só quem pode dar esmolas é o Estado.
O Estado é o irmão provedor. Ele tem de se imiscuir na vida dos cidadãos e resolver todos os seus problemas, até os de caráter. A responsabilidade individual deixa de existir. A conduta deletéria do indivíduo é resultado do meio.
As pessoas são transformadas em idiotas e incapazes. Os criminosos são vítimas da sociedade injusta. O cidadão que insiste em ser honesto e trabalhar todos os dias é esquecido. As atenções se voltam para os que romperam o contrato social.
O combustível que move a luta é o ressentimento. A ordem é destruir quem conseguiu conquistar bens e posições. Ignoram que o indivíduo que ficou bem de vida por ter passado em concurso de alta complexidade não é necessariamente um explorador que estudou à custa do sacrifício dos marginalizados. Essa pessoa sacrificou a pelada na praia, a cerveja com os amigos, o namoro com a garota mais bonita do bairro e outras diversões, enquanto quem não passou em nada se jogou no hedonismo e agora reclama da sociedade excludente.
O mesmo raciocínio serve para o empresário que abriu um negócio, correu riscos e, após dar certo, emprega centenas ou milhares de pessoas. “A propriedade privada é um roubo”, dizem, estimulando o ressentimento dos que só têm capacidade mesmo para vender sua mão-de-obra.
O militante de esquerda é mal-agradecido. Um certo dia, a avó de uma conhecida estava jogada no corredor de um hospital público quando um médico, tomando conhecimento do fato, retornou de uma viagem e adotou todas as providências para que a senhora ficasse alojada confortavelmente. Seis meses depois, ele decidiu se candidatar e procurou essa pessoa para lhe pedir apoio. Recebeu um não como resposta, porque ela só votaria em candidato da esquerda. Na hora de pedir socorro, porém, nenhum médico de esquerda apareceu para ajudá-la.
Decidi não ser mais de esquerda porque não encaro a política como uma fé secular, em substituição à fé divina; não odeio o mundo em que vivo e vejo as pessoas com virtudes e defeitos.
Não adianta proclamar a fé na humanidade e abandonar seus filhos, como fizeram Rousseau e Marx.
– Aquele ali é uma pessoa – dizia a mãe de Vital Farias para dizer que um indivíduo era do bem. Ser uma pessoa é cumprir com suas obrigações básicas e a primeira delas é com os filhos, não com o partido, erigido a todo-poderoso e grande irmão pelos teóricos do socialismo “científico”.
Eis o que quero fazer a partir de agora: conservar as boas tradições sedimentadas pela humanidade ao longo dos tempos, sem cair no canto da sereia dos pseudos-revoltados e ressentidos; saber julgar o que é certo e errado sem os grilhões da ideologia a nublar o meu raciocínio; ser generoso com os mais necessitados, sem os transformar em idiotas e dependentes; honrar pai, mãe e filhos; defender a liberdade acima de tudo.
Por Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal e Jornalista