18/08/2017 18:09
”Os partidos que devem sobreviver ao processo de mudança são exatamente aqueles que conseguirem entender a diferença entre oportunidade de mudar e oportunismo eleitoral.”
A mudança dos partidos em movimentos é um processo visível em diversas partes do mundo na última década. Na maior parte dos casos é fluxo que nasce das bases da sociedade, iniciado em segmentos organizados e até em redes sociais. Esta característica nasce diante da decepção com o quadro partidário, que não consegue mais dar voz aos desejos e vontades de uma população que não sente-se representada no mundo político.
Os casos são os mais diversos. Os exemplos estão espalhados pelo mundo. Da Espanha vem o Podemos, nascido em 2014 de um manifesto de pensadores de esquerda usando as redes sociais como estratégia de disseminação de ideias. Pelo mesmo caminho surgiu o Ciudadanos, partido de corte liberal. O caminho não foi trilhado apenas pelas novas forças. Na França, a tradicional UMP foi rebatizada de “Republicanos”.
Na América Latina os movimentos chegaram com força, em especial com Evo Morales na Bolívia com o MAS. No Equador, as quatro novas frentes políticas que buscam registro se intitulam como movimentos. No Chile, com a redemocratização, a união das forças de centro-esquerda passou a se chamar “Concertacíon”, enquanto Piñera chegou ao poder pela direita com o movimento “Renovacíon Nacional”. Macri se elegeu pelo Cambiemos na Argentina.
No Brasil a recente febre tem menos relação com uma real reação das ruas, estando mais próxima das direções partidárias, que buscam um diálogo com estas forças. Entretanto não há ilusão. É preciso considerar também as oscilações oportunistas de certos grupos políticos. Torna-se necessário separar as intenções reais da simples malícia de alguns em rebatizar estruturas antigas contaminadas pela velha política.
O precursor desta nova onda foi o Novo, partido de tendência liberal, que busca uma profunda renovação no modelo de Estado, apostando em um administração leve, sem o peso da burocracia do excesso de governo. Marina Silva enxergou a tendência do eleitorado e criou a Rede logo depois das eleições de 2014. Antes disso ainda havia nascido o Solidariedade, de um tendência do movimento sindical, com nome inspirado no movimento do polonês de Lech Walesa.
O eleitor precisa estar atento, pois abriu-se também a possibilidade do oportunismo eleitoreiro mediante a maquiagem de velhas siglas que na verdade não se renovaram quanto a valores e práticas. Partidos como PTN, PTdoB, PSL, PEN e PP serão apresentados como Podemos, Avante, Livres, Patriotas e Progressistas. Até o PMDB busca rebatizar-se novamente como MDB. Diante do quadro, o eleitor precisa de cautela, pois de nada adianta os partidos mudarem seus nomes sem buscar uma real conexão com as mudanças buscadas pela sociedade. Os partidos que devem sobreviver ao processo de mudança são exatamente aqueles que conseguirem entender a diferença entre oportunidade de mudar e oportunismo eleitoral. Soberano, o povo fará este julgamento em 2018 nas urnas.
Por Márcio Coimbra