26/02/2018 11:30
”Até onde entendo, Bolsonaro não visa ganhar uma eleição, mas mudar o país. A maturação da mudança que pretende precisa de tempo, penetração e amadurecimento.”
A exposição de Jair Bolsonaro na grande mídia fez parte do establishment político acordar para uma realidade incômoda. Até aqui, o deputado tem sido o único postulante ao Palácio do Planalto que conseguiu angariar em torno de si as insatisfações de uma camada até então silenciosa da população. Mais do que um candidato folclórico como é retratado, Bolsonaro encarna um conservadorismo adormecido, aliado ao sentimento de rejeição aos movimentos de esquerda e uma crescente insatisfação ao senso comum politicamente correto presente na grande imprensa.
Assim, é preciso entender Bolsonaro mais como consequência do que causa. Personifica uma crescente insatisfação com o estado de coisas. É a indignação em estado puro, portanto, porta voz das inquietações de uma camada importante do eleitorado brasileiro. Em volta de si, hoje não encontram-se apenas conservadores, mas também outras correntes que enxergam no personagem alguém que fornece voz para uma parcela da população que vivia em silêncio.
As aspirações presidenciais de Bolsonaro, que geram reações controversas, tornaram-se apenas o embrião de um movimento que, se bem organizado, pode ir muito além de 2018. Mesmo com uma derrota na eleição presidencial, torna-se viável organizar em torno de si as bases de um movimento que pode subsistir por muito tempo. A direita representada em torno de Bolsonaro, se organizada organicamente, pode representar para seu grupo o mesmo que a criação do petismo significou para a esquerda, a soma de uma ideia, estruturada em um partido, com um líder como porta voz.
Para tornar-se um farol da direita conservadora, o movimento de Bolsonaro deverá mirar na próxima geração ao invés da próxima eleição. Esta é a leitura que tem faltado ultimamente. Enquanto a mídia analisa apenas suas chances na eleição presidencial, perdem a história principal. Bolsonaro pode não estar no jogo apenas para 2018, mas usar o pleito para catapultar um movimento que pode realizar uma mudança de fundo na política brasileira para a próxima geração.
Assim surge a ideia de formar em torno de si um movimento conservador perene, que influa na tomada de decisões, no jogo político e nos destinos da nação. Entretanto, dentro deste tabuleiro, Bolsonaro não pode correr o risco de vencer em 2018. Perdendo, sai do pleito maior, líder de um movimento com voz e autoridade no mundo político, elegendo deputados e senadores que façam eco ao seu discurso.
Em suma, a estratégia política está posta. Construir um movimento conservador de direita no longo prazo, que forneça voz aos indignados usando uma candidatura presidencial como ponta de lança para a eleição de uma bancada influente no parlamento. Até onde entendo, Bolsonaro não visa ganhar uma eleição, mas mudar o país. A maturação da mudança que pretende precisa de tempo, penetração e amadurecimento. Qualquer leitura fora disso, é uma visão de curto prazo, inconsistente com as ações políticas estratégicas que assistimos até aqui.
Por Márcio Coimbra