02/05/2018 15:11
”Quando as pessoas fazem de conta que não sabem o que está acontecendo(…)eu digo que é a falta do temor a Deus, porque o temor às leis já desapareceu há muito tempo”
O medo é um freio moral decisivo para a coexistência dos seres humanos. Sem ele, as pessoas seriam capazes de buscar satisfazer, sem regras e pudores, os instintos mais primitivos.
Há dois tipos de medo: do castigo divino, observado pelos que acreditam na existência de Deus ou de uma força superior aos seres humanos que nos cobrará pelos atos praticados na vida terrena; da punição legal, através das leis e das autoridades que as aplicam, e da censura e reprovabilidade social.
Ocorre que parcelas numerosas da sociedade não temem mais o castigo divino, simplesmente porque, convencidas pela Ciência, pelo menos até onde esta conseguiu alcançar, ou pelo ceticismo filosófico de um Friedrich Nietzsche,acham que Deus está morto.
O receio de ser alcançado pelas sanções legais tem diminuído a cada ano, com o desrespeito aos direitos alheios grassando na sociedade, diante de uma legislação elaborada para enganar os tolos: penas altas e severas com processo e execução penais frouxos, repletos de regalias, progressões rápidas de regime, saidões, visitas íntimas, penas alternativas e cestas básicas desmoralizantes.
“Dá nada”, respondem os menores infratores quando a autoridade policial os adverte sobre a gravidade de suas condutas. Eles sabem da leniência das regras estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, pelas quais, mesmo que o infrator mate 100 pessoas, nenhum adolescente ficará internado por mais de três anos.
Quando as pessoas fazem de conta que não sabem o que está acontecendo e ficam se perguntando por que são assassinados 61 mil brasileiros anualmente, morrem 45 mil no trânsito, 40% das ocorrências criminais são de violência doméstica e os tribunais estão abarrotados de processos mentirosos e alienações parentais, eu respondo que a principal razão é a falta do temor a Deus, porque o temor à aplicação das leis já desapareceu há muito tempo.
Por Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor